Em 15 de novembro de 1889, foi proclamada a República no Brasil, um acontecimento que deveria ser celebrado com orgulho pelo nosso povo. Naquele dia, a Monarquia foi derrubada e surgiu a promessa de um novo governo que representaria todos os brasileiros, com princípios de igualdade e participação política. Mas ao andar pelas ruas, principalmente das favelas, e perguntar aos brasileiros sobre o significado dessa data, percebemos que, para muitos, a República ainda é uma realidade distante e quase abstrata. Poucos entendem seu valor, e menos ainda sentem que fazem parte desse sistema.
Ao longo dos anos, o pluralismo político e as divisões de ideais contribuíram para distanciar o povo da essência republicana. Enquanto a República Federal deveria ser um projeto de todos, ela deixou de ser discutida nas escolas, nos lares e nas conversas do dia a dia. Com o passar do tempo, o que era para ser um governo do povo e para o povo tornou-se, para muitos, um conceito apenas “para alguns”. Nas comunidades de baixa renda, essa ideia de República como um sistema democrático que inclui todos parece ter se perdido por completo.
Na prática, o que observamos é que a realidade da República muitas vezes não chega a essas áreas vulneráveis. Direitos básicos como segurança, educação e saúde permanecem escassos, e as oportunidades são limitadas. A violência, a fome e a miséria tornaram-se parte constante da vida das pessoas, que se sentem distantes de qualquer benefício que a República deveria trazer. Vivemos, na prática, uma separação: de um lado, o “Brasil oficial” e, do outro, o “Brasil das favelas”, onde as promessas republicanas parecem não se cumprir.
Essa desconexão também se reflete na política. Em um sistema que deveria ser republicano, vemos um processo que muitas vezes mais se assemelha a uma “monarquia oculta”, com famílias políticas que se sucedem no poder, transferindo cargos de pai para filho. Em muitas favelas, os cartazes de campanhas eleitorais reforçam essa ideia: “filho de A”, “herdeiro de B”. Esses nomes se perpetuam e minam a renovação política, criando um ciclo de poder que parece excluído das necessidades e demandas reais da população.
Em meio a essas realidades, fica a pergunta: qual é o sentido da República para quem vive na favela? Será que nossas crianças, jovens, homens e mulheres entendem o que essa palavra significa? Quando o direito ao básico é negado e as oportunidades são limitadas, é difícil acreditar que vivemos em um verdadeiro regime republicano. A República, no papel, pode até ser de todos, mas a prática ainda nos mostra uma realidade dividida.