A resistência artística que vem do subúrbio: Na Zona Norte do Rio, 21 artistas visuais dão cor a antigo hospital psiquiátrico

foto: Ìyá-àgbà - Léa Cunha

Na Zona Norte, a arte pode até agonizar, mas não morre. Pelo menos é o que expressam as obras de Leá Cunha, Rona Neves e Tarso Gentil. Dando cores, luzes e vozes ao Espaço Travessia, no Engenho de Dentro, em exposição até o dia 27 de setembro, eles mostram que sonhos são possíveis e que o subúrbio carioca é capaz de produzir grandes artistas.

Talento nunca faltou para a artista visual Leá Cunha, de 40 anos. Mulher trans negra, nascida em Macaé, no interior do estado do Rio de Janeiro, ela, que começou sua jornada no setor cultural aos 15 anos de idade, está residente com a instalação “A vista se acostuma ou uma memória do futuro”, que é uma grande caixa preta onde estão expostas fotografias em preto e branco feitas no Laboratório de Composição de Imagem-Ritual, o qual é também diretora artística.

Tocada pelo projeto que reverencia a sensibilidade e o talento do Nelson Sargento, falecido aos 96 anos, em 27 de maio, vítima da Covid-19, ela celebra o evento. “Penso ser de suma importância dar visibilidade aos espaços artísticos que existem na Zona Norte da cidade do Rio, como é o caso do Espaço Travessia, que precisa ser ocupado por artistas do subúrbio, então espero imensamente que os seus moradores se apropriem desse como uma possibilidade real de lazer e cultura”, afirma.

artista: Tabu/Taso Gentil

 

Quem também começou na cultura quando adolescente foi o ator, cenógrafo e artista plástico Tarso Gentil, de 33 anos. De Gramacho, no município de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, ele é um dos milhares de exemplos de resistência na arte.

E o que esses artistas têm em comum com a história do cantor, compositor, sambista, artista plástico, ator, poeta e escritor Nelson Sargento? Tudo. Afinal, assim como o homenageado pela mostra “Arte, agoniza mas não morre: Nelson Sargento, 9.7”, eles são vários talentos num só e suas trajetórias se misturam pelo Brasil.

Para Tarso, que está expondo diversas obras que reverberam ancestralidade, espiritualidade e memória através de séries, sendo algumas dessas, ‘Memórias de um cotidiano ancestral’ e ‘Eu que lute’, ocupar o Espaço Travessia com essa mostra é dar continuidade ao trabalho de um multiartista negro e periférico de afeto e amor à cultura. “É muito importante levarmos nossa arte preta e periférica e nosso ponto de vista a partir do que adquirimos dos ensinamentos e das histórias contadas pelos nossos mais velhos. Assim como ele, sou multi. Essa relação vem muito da nossa ancestralidade. Ele era muitos em um só. Isso nos aproxima. Ele tratava tudo de forma muito real a partir das suas raízes e tinha amor por ser quem era e de onde vinha”, disse.

Reunindo arte, ancestralidade, samba, cor, raça, periferia, negritude e diversidade, das 15 obras de arte de Nelson Sargento expostas na mostra, seis são inéditas e foram pintadas por ele durante seu último ano de vida. Para prestigiar a exposição localizada no Núcleo de Cultura, Ciência e Saúde/Espaço Travessia, que toma dois andares de enfermarias desativadas do antigo Hospital Psiquiátrico Pedro ll, hoje Instituto Municipal Nise da Silveira, basta se dirigir de segunda a sexta-feira, das 10h às 17h, à Rua Ramiro Magalhães, 521, no Engenho de Dentro, Zona Norte do Rio de Janeiro, obedecendo protocolos de segurança contra a Covid-19. O evento segue até o dia 27 de setembro.

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