Luta popular protagonizada por moradores da comunidade resultou na revogação de decreto de desapropriação

Reportagem para o jornal A Voz da Favela de novembro de 2019

 

Caranguejo Tabaiares é uma comunidade de origem tradicionalmente pesqueira, que sobrevive da pesca e da criação de moluscos. Organizada há quase cem anos, está localizada na Zona Oeste do Recife entre os bairros de Afogados, Joana Bezerra e Ilha do Retiro. Desde 1996, a área se tornou uma Zona Especial de Interesse Social (ZEIS), local de habitação popular de baixa renda, que surgiu espontaneamente com possibilidade de urbanização e regularização fundiária. Mesmo assim, a especulação imobiliária que assola o Recife, alcançou a favela, que está localizada numa região bem próxima ao Centro.

Tabaiares possui aproximadamente 14 mil habitantes e se organiza de diversas formas para garantir à sua população condições de vida. A moradora Sarah Marques, 38 anos, é representante do coletivo Caranguejo Tabaiares Resiste e conta que o território está esquecido há muito tempo: “entra governante, sai governante, e nada é feito”. “Em 2018, o prefeito Geraldo Júlio resolveu executar um projeto de abertura de via na margem do canal, mesmo a localidade sendo uma ZEIS. Ele propôs levar os moradores para o habitacional do Barbalho, que fica à 8 km de distância de Tabaiares, ou uma indenização só pela benfeitoria”, afirma.

Faixa reivindica o habitacional popular para o local. Créditos: Junior Silva / ANF
Créditos: Junior Silva / ANF
Créditos: Junior Silva / ANF

O Caranguejo Tabaiares Resiste surgiu da necessidade de reafirmação do território e luta por direito à moradia, que deve ser garantido pelo Estado. Recentemente, o coletivo articulou entidades locais para fortalecer o enfrentamento à retirada das casas do local, que teve decreto de desapropriação assinado pelo prefeito em 24 de julho. Além da abertura da via, um dos embates entre a comunidade e a Prefeitura resultou na revogação do decreto (ilegal), que visava a retirada das casas sob alegação que a área ocupada é de utilidade pública. No entanto, áreas de ZEIS são legalmente protegidas por se tratarem de assentamentos habitacionais de população de baixa renda.

A mobilização popular garantiu a permanência da comunidade, mostrando que a favela está empoderada de seus direitos. É preciso proteger essas áreas, que têm grande importância social para um meio ambiente ecologicamente equilibrado, garantindo o modo de vida da população como forma de fortalecer a identidade cultural local. É nessa luta que Caranguejo Tabaiares resiste e continuará resistindo.