A sorte está lançada

Foto TV Globo

A expressão “jus esperneandi”, paródia de citação latina ao gosto dos advogados significando vagamente “direito de espernear” foi repetida diversas vezes durante o debate entre os dois candidatos na Globo nesta sexta-feira, não por quem participou diretamente do evento, mas por quem acompanhou a transmissão. O que os observadores apontavam com o comentário? Simplesmente a preocupação do presidente da república em reclamar, chiar, denunciar, acusar sem provas nem fatos. nos últimos dias, tentativas de tirarem-lhe a vitória nas urnas. Puro mimimi, choradeira de mau perdedor. Jair é o menino dono da bola que não joga nada e quer ser escalado senão vai embora e ninguém joga.

Meu realismo otimista permite prever vitória de Lula com 51,7% dos votos válidos, contra uns 46% do adversário. É muito, considerando a expectativa de mais de 20% de abstenções, nulos e brancos e será tão legítimo quanto qualquer estimativa que se faça. Mas o resultado será contestado no contexto do mesmo “jus esperneandi” do derrotado que se recusa a encarar a derrota. Ele, como toda a família e mais seus generais de comitiva, vai questionar e levar a sucessão presidencial para um terceiro turno tão inútil quanto desgastante.

Um pouco de historia: em 1955, Juscelino Kubitschek se elegeu com 35,68% dos votos válidos, a menor votação de todos os presidentes eleitos de 1945 a 1960. Não havia segundo turno e seus adversários no campo político tentaram de todas as formas legais e ilegais impedir sua posse. Carlos Lacerda, jornalista da direita raivosa da época, que havia participado no ano anterior do trágico suicídio de Getúlio Vargas, chegou a vaticinar sobre JK que se fosse considerado vitorioso, não seria empossado e, se empossado, não governaria.

Ali estava o embrião da turma civil e militar de 1964, que derrubou João Goulart, presidente progressista que tinha 70% de aprovação popular. Desde então, empresários reaças conspiradores tiveram filhos e os formaram nos mesmos ideais, e generais, almirantes e brigadeiros também proliferaram dentro das forças armadas. Ainda hoje se encontram nomes como o de Sérgio Etchegoyen, golpista de 2016 de família golpista de 1964 e de 1954.

A jornalista Renata Lo Prete fez o candidato à reeleição repetir diante das câmeras duas vezes que respeitará o resultado das urnas. Desnecessário? Com certeza, pois se os militares quiserem o golpe e tiverem apoio interno e externo para tanto, babau tia Chica. Exagerado? Nunca, considerando que foi uma declaração firme do presidente. Para nós, resta torcer para que as instituições, entre elas as forças armadas, sejam democráticas o suficiente para valer a vontade popular. Afinal, se é para latinizar a questão, ainda prefiro o velho e bom ditado “Vox populi, vox Dei” (A voz do povo é a voz de Deus).