Ser sustentável significa fazer uso consciente dos recursos presentes sem agredir o meio ambiente, e de forma que as gerações futuras tenham condições de suprir suas necessidades sem escassez.
Sustentabilidade é um conceito relativamente novo para a classe média, mas sua prática é uma velha conhecida entre a população carente. A ideia que aos poucos está sendo adotada nos bairros nobres tem por finalidade diminuir as agressões ao meio ambiente. Já a prática que acontece nas favelas tem por finalidade a sobrevivência de famílias que não possuem poder de compra.
Não desperdiçar comida e usar roupas de segunda mão fazem parte da cultura de boa parcela dos moradores de comunidades carentes, bem como usar os produtos de higiene até o fim antes de comprar outro e reaproveitar embalagens como vidros de conservas, caixas de sapato e latas de leite para organizar objetos.
Nós, moradores de favela, não jogamos fora o que ainda pode servir para alguém, aprendemos desde cedo a consertar objetos e alguns eletrodomésticos, aumentando sua vida útil. Produzimos produtos de beleza caseiros como máscara de abacate e hidratação de amido de milho para os cabelos. Somos excelentes em transformar objetos reaproveitando outros materiais como, por exemplo, o papel de presente que se transforma em uma nova capa para um caderno.
Como se não bastasse, também praticamos cidadania através da sustentabilidade coletiva com trabalhos voluntários que auxiliam os próprios moradores na tentativa de amenizar os danos do abandono governamental. Nos faltam recursos, mas não nos faltam braços.
É satisfatório perceber que uma boa parte da população está se conscientizando e adotando medidas para a preservação do planeta. O que ainda falta é a consciência de classe. É perceber que o que eles fazem por escolha, nós fazemos por necessidade há muito tempo.