Adailton Nascimento de 20 anos é morador do Morro Santa Marta e se formou em Matemática pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Iniciou a graduação no primeiro semestre de 2016 e terminou no final de 2018. Adailton contou parte de suas trajetórias e de suas dificuldades, além da experiência como morador de favela estudando como bolsista em uma das faculdades mais caras do Rio de Janeiro.
“O início foi complicado, pois é uma nova realidade e na faculdade as coisas são mais complicadas, os livros são mais caros, gastos são altos, principalmente em uma particular como a PUC, onde até o bandejão é caro pra um bolsista se manter”, declara Adailton, ressaltando que não conseguiria se manter na faculdade sem a bolsa fornecida pelo PROUNI (Programa Universidade para Todos) e o apoio dado pela PUC aos bolsistas, como o FESP (Fundo Emergencial de Solidariedade da PUC-Rio), um programa de permanência a estudantes universitários que não têm condições financeiras para manter-se no curso, que pagava os almoços de Adailton e o transporte de alunos que, por morarem muito longe, não conseguiam se manter apenas com o Passe Livre Universitário.
Ao ser questionado sobre seus maiores desafios durante o período de curso, Adailton conta que foram as matérias, o aprendizado e a administração de seu tempo. Considerando que não podia sair muito tarde da faculdade porque poderia ficar perigoso para subir o morro. Além disso, o jovem afirma que com o passar dos períodos o acesso aos materiais ficava cada vez mais difícil. “Uma das dificuldades é a necessidade do inglês, os professores já passam o material em inglês”, relata.
Sua rotina foi um desafio, pois Adailton começou a trabalhar como autônomo, dando aulas particulares para ajudar sua mãe, dessa forma tinha de administrar o trabalho, a faculdade e seu tempo de estudo. Depois da separação de seus pais, fato ocorrido quando o jovem tinha 11 anos, Adailton permaneceu anos sem receber pensão de seu pai e no momento em que precisava, período em que estava cursando a faculdade, estava sem contato com o mesmo.
O jovem relata que não sofreu nenhum tipo de preconceito por ser morador de favela em sua estadia na PUC, no entanto algumas situações o marcaram no que diz respeito às diferentes classes sociais presentes na instituição: “Algumas vezes, por eu ter amigos de diferentes classes econômicas, eles não têm muita noção de que não é todo mundo que pode sair pra um aniversário no Outback pagando, ou restaurantes chiques”.
A rotina do estudante também foi o que mais pesou nos últimos períodos de curso. O jovem se mudou para uma república próxima a sua faculdade, pois além de voltar muito tarde para casa, os tiroteios estavam ocorrendo frequentemente no Santa Marta. Assim, surgiu a dificuldade de ter mais um aluguel para pagar, que não era barato, além de manter a rotina de trabalhar e ajudar sua mãe.
O jovem também tinha de fazer compras para se alimentar, arrumar e limpar a república em alguns dias e estudar muito, pois estava no fim do curso e uma reprovação significava não ter diploma. Conta que a dificuldade das matérias é exponencial e que as do fim são as mais difíceis. Contudo, apesar de todos os obstáculos de sua trajetória, Adailton atualmente exibe no seu perfil do Facebook uma foto vestindo uma beca e segurando seu tão sonhado diploma ao lado de sua mãe, com a legenda “Sempre foi e sempre será por ela”, nos servindo como uma grande inspiração.