A (trans) ignorância brasileira: quem tem medo de Thammy Miranda?

Thammy em família - Reprodução

A cada dia que passa é possível se indignar mais com o Brasil. É impressionante como o povo brasileiro reúne em suas características tanto sentimento e pensamento retrógrados, preconceituosos e maldosos. Aquele povo que passava para o mundo uma imagem de gentileza e alegria já se foi. Ficou nos anos 80. A mais nova porta escancarada do preconceito está nas reações a um simples comercial de perfume. Meu Deus, que povinho é esse?

E não venham me dizer que é por causa dos preceitos religiosos. Eu sou católico, frequento a missa (quase que regulamente!) e a Igreja não manda jogar pedras, mas acolher. Da mesma forma vejo evangélicos gritando aos berros nos templos e nas calçadas com caixas de som altíssimas dizendo que somos todos irmãos.

Então eu pergunto: Quem tem medo do sexo de Thammy Miranda? Em que sentido Thammy ter escolhido se vestir, se portar e agir como homem vai interferir na sua vida? Em que sentido o amor de Thammy por uma criança é renegado se o amor está no coração e não no órgão sexual?

A indignação dos que torcem o nariz para Thammy Miranda vem dos “homens e mulheres de bem”. Os mesmos que não movem uma palha para reclamar porque o Governo brasileiro usou menos de 30% do orçamento destinado ao combate à pandemia do coronavírus enquanto mais de 100 mil pessoas já morreram no país.

Dizem que é uma afronta às famílias um transexual ninar seu filho, cuidar do seu filho e dar amor ao seu filho. Mero engano, posso garantir. Afronta mesmo é um pai ou uma mãe deixar seus filhos para trás a fim de viver egoisticamente a sua própria vida. Sorte da criança que tem um Thammy ao seu lado!

Ao contrário do que os “homens e mulheres de bem” pensam, muitas mulheres fazem o papel de pai e muitos homens fazem o papel de mãe. Não pelo mesmo motivo de Thammy, mas por razões diversas que são de interesse e de foro íntimo. Ninguém teve o desplante de questionar até agora qual o perfume que eles usam para boicotar a marca ou a loja que comercializa.

Como não sou expert no assunto fui pesquisar sobre transexualidade, assunto que causou tanta indignação nas pessoas de bem. Fiquei surpreso com os números que encontrei na página em que a professora e médica Luciana Segat (especialista em Obstetrícia e Ginecologia) e a acadêmica de Medicina Bárbara Bambilha – UCS (Caxias do Sul-RS) escreveram sobre o assunto: https://vitallogy.com/feed/Transgenero%2C+transexual+e+travesti%2C+voce+sabe+a+diferenca+entre+esses+termos%3F/485

Você sabia que “estima-se que a população transgênero no mundo seja de 25 milhões, correspondendo a cerca de 0,5% da população, apesar das taxas de prevalência serem subestimadas em função de haver poucos indivíduos que procuram centros de referência para transgêneros”?

Segundo artigo da professora Luciana Segat, no ano de 2018, a Organização Mundial da Saúde anunciou a retirada dos transtornos de identidade de gênero do capítulo de doenças mentais presente na Classificação Internacional de Doenças 10 (CID-10) e passou a incorporar no CID-11 o tema com o termo incongruência de gênero no capítulo sobre saúde sexual. Já o Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-5) estabeleceu o termo disforia de gênero para o sofrimento que pode acompanhar a incongruência entre o gênero experimentado e o gênero de nascimento da pessoa.

E completa: “felizmente, o reconhecimento e também a aceitação da transexualidade aumentaram de maneira considerável em muitos países. Apesar disso, em muitas regiões há falta de aceitação cultural, estigma e discriminação, fazendo com que indivíduos transgênero escondam sua identidade de gênero. Ainda, quando há reconhecimento e aceitação, muitas pessoas confundem termos e conceitos em relação ao tópico”.

Então, queridos amigos e amigas, se não gostam de Thammy Miranda ou da mulher dele, aproveito esse espaço para lhe dar um conselho: é bom já ir se acostumando!

Vamos tomar um café?

Cartaz ilustrativo sobre transexualidade