Se há algo que pode ser tirado de períodos autoritários certamente é a união dos que sofrem com essas práticas. Seja no Brasil ou nas Américas, grandes exemplos temos da união de povos por um bem maior em períodos autoritários ou pós-autoritarismo. Exemplo magnífico, e ao nosso lado, foi a criação e unificação do partido Frente Ampla no Uruguai às véspera do golpe vivido no país, no ano de 1973. O partido que unificou a luta de descontentes com o momento político uruguaio, juntando guerrilheiros rebeldes, como os Tupamaros, figuras políticas de esquerda, intelectuais entre outros. Essa união possibilitou a eleição de Tabaré Vasquez e o irretocável José Pepe Mujica, figura política que ultrapassa qualquer limite geográfico.
Período autoritário, é que se evidencia no Rio de Janeiro nesse momento. Golpe após golpe, é o Brasil que sucede 2016. Mas dessa vez os esforço se concentraram no nosso Rio. Sem uma justificativa minimamente aceitável para imposição de uma intervenção federal, posto que, o Rio de Janeiro ocupa o décimo lugar na lista de estados mais violentos do país, a questão que fica é: por que aqui e não lá? Resta, claro, que a intervenção trata-se de uma jogada política, em que várias teses sobres os objetivos desta já foram levantadas.
Mas, ultrapassada essa questão política da intervenção, nos resta olharmos para nós, dar a mão e resistir. E isso é o que mais tenho visto acontecer. Ao longo da semana, as noites têm sido, cada vez mais, ocupadas por reuniões, debates e encontros para construirmos estratégias de resistência a esse golpe nas periferias cariocas. E isso é lindo demais. Seja na Faferj, CAARJ, espaços privados e, principalmente, nas favelas, a mobilização da população é clara; iremos resistir juntos, como nunca antes o fizemos. Maré, CDD, Complexo do Alemão também foram lugares que acompanhei a mobilização dos favelados. Também tivemos diversos locais que não tive acesso, mas que, igualmente, foram ocupados, ao ponto que é difícil acompanhar todos.
Assim sendo, temos a obrigação de olhar para o que estamos construindo nesse momento autoritário, ampliar nossos laços e solidificar nossa união acima de qualquer divergência pessoal ou conceitual, como muito bem expôs no Facebook a jornalista e comunicadora comunitária, Gizele Martins, da Maré. É tempo de resistência nas favelas cariocas e ela só será feita e de maneira efetiva, coletivamente, unindo todas as favelas. Favelados dos Rio de Janeiro, uni-vos!