Relembrando de longe o poeta Paulo Mendes Campos: a vida acaba. A vida pode terminar numa esquina, na hora do almoço, numa madrugada quente de verão, na saída do cinema, na saída da escola, numa tarde chuvosa, na curva alucinada da estrada, no meio de uma pelada na praia com amigos, numa manhã de brincadeira de criança, depois de um mergulho de mar, numa cama de hospital, num quarto de hotel, em noites de suspiros e pesar.
A vida pode se estilhaçar no alto de montanhas colombianas ou na porta de uma casa no alto da favela. Pode se findar por falha humana, falha técnica, “disparo acidental” ou auto de resistência. Pode terminar depois dos 65 ou antes dos 11 anos de idade. Podem se acabar 76 vidas de uma vez, ou uma só, que tão pouco tempo de existência tem. Pode fazer chorar as mães de Chapecó ou as mães dos Eduardos. A certeza é uma só: o fim da vida é a antítese de toda e qualquer lógica.
Agora, ontem, hoje e amanhã, percebe-se a sinestesia da vida que se acaba. É a calmaria da casa de quem não volta. É o chiado do radinho de pilha que não toca mais na cozinha de manhã. É o cheiro da camisa limpa no cabide que jamais será usada. É o almoço de domingo que nunca mais terá o mesmo sabor. É a voz da saudade que corrói o peito agora e pra nunca mais parar. É o eco que invade o quarto vazio.
Nada faz sentido. Tudo é silêncio.