O choro é ouvido de longe: mais uma mãe pranteia a dor da fome, de ver seus filhos com a barriga vazia. A fome voltou. Depois de termos vivido momento de mesa farta e poder de compra, o fantasma da fome volta a nos assustar. O ronco da barriga ecoa com força nos barracos da favela. Essa é uma triste realidade que pensei que jamais veria novamente.
Há pouco tempo, aqui se comia um bom bife. Ter frango no cardápio era o símbolo de que nada faltava na mesa de quase todas as famílias. Agora, o principal protagonista diário dos mais necessitados é o ovo. O som que mais ecoa na favela é o famoso carro do ovo, a Kombi que vende 30 ovos por R$ 10 e que, numa triste piada, até diz que a pobre da galinha “chora” para colocar tantos ovos.
Acredito que nunca se consumiu tanto desse alimento quanto agora, quando somos privados de ingerir na “mistura” algo diferente. Não que eu não goste de um bom ovo frito com arroz e feijão, mas, na minha visão, essa refeição se tornou um símbolo de fracasso e do retorno da fome.
O governo ilegítimo que aí está surrupiou uma das poucas coisas a que o pobre teve direito em época de vacas gordas: comer algo diferente. O mais assustador é que o povo segue sem esboçar uma reação. Não parte para defender os seus direitos de volta. O que espera? Que a fome o mate? Só pode.
Ou reagimos, ou ficaremos tão fracos que morremos por inanição. Reaja, povo faminto!