O Planalto começou a desmilitarização do “entorno” de Lula afastando das funções seis militares lotados na Secretaria Geral, gabinete pessoal do presidente e na Casa Civil. Na sexta-feira passada, a primeira depois da posse, foram dispensados Marcelo Paredes, suboficial do Comando do Aeronáutica; Fernando Martins, subtenente do Comando do Exército; e os soldados Johnny Ornelas e Jair de Souza. Os quatro estavam na Secretaria-Geral. No meio da semana, o Diário Oficial da União publicou a exoneração de oito mil militares lotados em praticamente todo o aparato do estado.
A questão de exonerar a milicada encostada no governo não é nova, mas nunca foi enfrentada desta maneira aberta e franca, porque os militares sempre mantiveram um resíduo de poder na máquina, depois da ocupação de anos entre 1964 e 1985, período da ditadura mais recente. Essa mudança de protocolo se deve basicamente ao fato de o governo Bolsonaro ter significado a militarização “democrática” do governo com o objetivo final de instalar a ditadura personalista do “Mito”.
Felizmente não deu certo, começando pelos acampamentos civis às portas dos quartéis pelo país e terminando com a fuga vergonhosa de Bolsonaro do país para evitar a prisão que ocasionalmente será pedida pela justiça. As ocupações também possibilitaram enxergar entre a população civil pró-Bolsonaro a firme crença de que as forças armadas (leia-se Exército) saísse às ruas em apoio à sublevação popular, dando sustentação à aventura ditatorial do ex-presidente.
A atual desmilitarização do poder é o sinal mais eloquente e óbvio do que representou a eleição de Lula no primeiro momento, ainda na formação da ampla base de apoio ao seu nome. Muita gente votaria nele para tirar Bolsonaro, aí incluído o pensamento militar que tomava conta da nação muito rapidamente. Até hoje me pergunto como foi possível o PT ficar mais de uma década na presidência da república sem promover a mínima discussão sobre a história da ditadura militar e o horror que ela significou.
Eleito Bolsonaro, em 2018, já no ano seguinte teve início a militarização do ensino público brasileiro, com a Polícia Militar ocupando a direção de escolas, com apoio de muitos pais e comunidades e em muitos casos – pasme! – do próprio corpo docente, que achou muito bom esse negócio de ordem unida, hino nacional no pátio, cabelo curto e proibição de piercings, tatoos e até brincos.
O atual processo de desmilitarização vem atestar que o Brasil voltou a ser um país civil onde o estamento militar deve obediência e respeito à autoridade, a começar pelo presidente da república eleito no segundo turno pela maioria dos votos e cuja vitória, como se depreende das manifestações contrárias, é a manifestação cabal e soberana da democracia sobre viúvos e órfãos do regime militar.