Não existe aborto masculino, existe abandono paterno.
Homens não engravidam e logo não abortam, mas abandonam e com frequência. Seria ótimo se homens cisgêneros pudessem engravidar, com certeza diminuiria bastante a divisão sexual do trabalho imposta pela sociedade.
Mas essa realidade ainda não é possível (e sinceramente nem sei se precisa ser apenas uma gestão da sociedade com equidade de gênero já bastava).
A realidade que vivemos segundo o IBGE (2015) é de 5,5 milhões de pais abandonando seus filhos, (sem ao menos registrá-los) esquecendo da participação e responsabilidade na geração de uma nova vida e responsabilidade caindo direto nas costas das mães.
Vamos começar pelos significados e diferenças entre as palavras.
Segundo o dicionário do Google abandono significa: “ato ou efeito de largar, de sair sem a intenção de voltar; afastamento.” Já aborto, significa: “Interrupção prematura, natural ou artificial, do processo de gestação causando a expulsão do feto antes que este possa sobreviver fora do útero”.
Enquanto abandono refere-se à falta de responsabilidade com filhos, o segundo é restrito ao direito da mulher a decidir sobre o próprio corpo. E digo restrito ao corpo das mulheres com útero, por que sejamos sinceros quantas mães você conhece quem abandonaram seus filhos?
Seja de maneira formal, em uma instituição para adoção ou como é comum para os pais, simplesmente desaparecer e viver a vida da mesma forma (financeiramente, tempo, lazer, oportunidades) que antes.
Fora que uma gestação gera mudanças físicas, emocionais, hormonais e socais (mulheres perdem empregos, pesquisas, oportunidades e direitos ao engravidarem). Enquanto o homem que abandona, simplesmente ignora a mulher grávida e some.
Ele não teve nenhuma dessas mudanças. Não estou dizendo que seja simples para os homens mas é bem menos complicado do que para uma mulher. Falar sobre é aborto não é falar apenas sobre criar uma criança mas principalmente falar sobre a escolha de viver uma gestação. E por isso os homens não passam.
Falar de aborto é falar de escolha, de prevenção de responsabilidades mútua na contracepção ( fica fácil cobrar anticoncepcional, sem participar dos curtos, sem ir buscar no postinho, quando não é você que toma o comprido e piores são aqueles que reclamam da camisinha mas nem exames de IST fazem).
E falar de abandono é falar de responsabilidade, de afeto, saúde mental da criança, solidão e exaustão da mulher e sentimentos do pai (mesmo que seja para falar da falta deles). É preciso discutir participação masculina mas também é preciso discutir aborto, afinal são mulheres que arcam sozinhas com a gestão, criação ou morrem e são criminalizada pelo aborto.
É pela sociedade, é pela vida, é pelas mulheres.
Discutir abandono paterno, solidão e exaustão materna, carga mental e a desigualdade do Mais do mesmo: a desigualdade e opressão sobre mães é tanta que a gente se fode no rolê se virando nos 30 pra criar a criaturinha cumprindo 100% do que os outros 50% parece esquecer ser sua responsabilidade e ainda ter que ler esse tipo de coisa. – Link para a matéria: https://azmina.com.br/colunas/presenca-de-pai-e-mais-importante-que-de-mae/-
Seria incrível se homens cisgêneros pudessem engravidar e, portanto, abortar. Primeiro porque o aborto já seria legal. Segundo, porque eles finalmente entenderiam o peso da contracepção.
Mas eles não podem. Então abandonam os filhos. E a nós cabe criar essas crianças sozinhas, ou passar pelo trauma de uma gravidez indesejada ou ainda morrer tentando abortar ilegalmente.