A cada dia que passa está mais difícil emergir da face um riso sincero, pois o que vemos nas redes sociais são nossos corpos sendo exterminados. Essa semana foi mais uma daquelas que precisamos reunir forças do âmago, respirar fundo, colocar uma roupa e botar a cara no sol. Ainda em choque com os assassinatos de Marielle e Anderson, fomos novamente abatidos pelo assassinato de Matheusa.
Sim, uma jovem estudante da UERJ, que tinha toda uma vida pela frente e sonhos a realizar. Teve seus planos abruptamente retirados, sim. Mataram Theusinha, como os amigos a chamavam, e abriram uma nova fenda em nosso peito. Foi assassinada e queimada. Um crime de ódio, pois nem um velório podemos oferecer à memória de Theusinha. Essa forma de crime é muito típica no Brasil. Pois se tira a vida e quaisquer possibilidades de memória, buscando apagar tudo. Não deixam nada, nem se quer dar um último adeus. Triste, dilacerante.
Na militância tentamos sempre buscar compreender o contexto social de uma dada sociedade, para que dessa forma possamos apreender os comportamentos sociais. Sim, porque são comportamentos sociais e não individuais, ou alguém tem dúvidas que mesmo motivados distintamente, os crimes contra Marielle e Matheusa têm muita coisa em comum: pessoas não aceitas pelas elites racistas brasileiras, que foram exitosas em transmitir os seus valores para todxs, inclusive para as classes populares. Não raro, vemos da Zona Norte à Zona Sul defensores daquele ser humano ultradireitoso querendo vir a ser candidato a presidente da República.
Mas uma lição fica dada, não podemos mais aceitar esses crimes passivamente. Precisamos nos colocar em luta e defender nossas vidas, pois está mais que banalizada a morte da população negra. Continuando assim, logo vão intensificar o nosso extermínio. Vamos todxs lutar por um mundo sem exploração, sem desigualdade social, sem Polícia Militar, sem mortes; queremos ser felizes nas ruas, nas universidades, em casa. Enfim, queremos continuar vivendo.
No dia 12 de maio será transmitido o documentário Auto de Resistência, 2018, de Lula Carvalho e Natasha Neri, na favela de Manguinhos, que retrata a violência do Estado contra a população negra. Em seguida, haverá músicas e poesias. Venha fortalecer a nossa luta que também é sua.