Uma vez por mês, empreendedores dos morros, favelas e periferias têm um encontro marcado. Eles fazem parte da rede de expositores da feira Omolokun, que leva música, dança, pintura, moda, bebidas artesanais e gastronomia das comidas de terreiro para dentro da Fundição Progresso. À frente do projeto, estão três mulheres negras e periféricas: a culinarista Leila Leão, a artesã Val Neves e a estilista Vania Soares.
Tudo começou nas aulas da professora de dança afro Aline Valentim, quando Leila Leão foi convidada pelo percussionista e cozinheiro Bruno Oliveira para assumir a gastronomia do evento. Esse ato iniciou um levante das mulheres negras, assumindo funções e desenvolvendo seus próprios negócios no espaço. “Omolokum é uma comida de Oxum, orixá feminino que simboliza a fertilidade da mulher. Não só a gestação, mas a criação e o empoderamento feminino como um todo”, conta Leila, que cozinha desde os 15 anos.
Com releituras e temperos do cotidiano carioca, mas sem, claro, perder o respeito pelo alimento que originalmente é sagrado, a Omolokum conquista mais admiradores a cada edição. O sucesso é garantido pela variedade de expositores, entre eles, a cerveja artesanal Caeté, fabricada na Maré. Além da feira na Fundição, o projeto possui uma casa no Morro da Conceição, onde desenvolve outras atividades.
A rede é articulada por Val Neves, moradora do Fallet e criadora da marca de acessórios Varal da Vall, inspirada nas cores da África e também participante. Na edição de janeiro, ela apresentou a coleção Abafo, criada em sua casa durante madrugadas de tiroteio, que voltaram a ser constantes na favela. “Em cada peça feita, foram depositadas energias de esperança para um mundo melhor, representadas em cores étnicas vibrantes para alegrar, mas também empoderar e proteger”, explica a artesã.
A estilista Vania Soares e seu Ateliê Ms. Vee também movimentam o evento. Com uma produção também voltada para acessórios que exalam africanidade, Vania promoveu um desfile recentemente na Omolokum para o lançamento de sua coleção Umbala Duo. Ela também ajudou a parceira Val Neves no lançamento da coleção Abafo e levou para a passarela 30 modelos, mostrando que a união, definitivamente, faz a força da mulher.
Mulheres lideram outras feiras afro pela cidade
Por Nyl de Sousa
Além da Omolokum, as feiras afro se firmaram na cidade nos últimos anos. Os looks e acessórios vendidos por afroempreendedoras dominam o vestuário alternativo e ditam tendência. É o caso de Fabiola Silva, do Odarah Bazar. Criadora na marca Colares D’Odarah, ela expunha seus acessórios em diversas feiras até que passou a sentir a necessidade de ter suas criações valorizadas. “Entendi que aqueles ambientes estavam tornando uma coisa que era cheio de história e significado em um produto corriqueiro”, explica ela, que começou no ramo fazendo brincos e colares para as amigas ainda nos tempos de escola.
Provocada por amigas experientes e pioneiras no circuito de moda afro no Rio, como Josina Cunha, dona da AfroJô, a primeira marca de moda afro na cidade, Fabiola deu outro passo: criou o Odarah Bazar, que nasceu como um encontro de marcas e hoje se tornou evento que reúne artes plásticas, debates e música sob o conceito de produção cultural afirmativa. Depois de três anos sediado na Febarj da Lapa, o evento acontece em março no recém-inaugurado Instituto Black Bom.
“Na Pavuna, ninguém achava aquelas dicas de beleza para comprar de maneira barata e fácil. Não havia variedade de salões étnicos nem referências”, relata a fundadora da Feira Crespa, Elaine Rosa. O sucesso foi tão grande que, a partir da terceira edição, Elaine conseguiu formar uma equipe, organizar as pendências e entender o negócio. Para 2017, Elaine e sua equipe estão reformulando todo o aprendizado para otimizar o negócio: “Estamos buscando fazer o capital girar para manter a empresa e a equipe.”
Também foi a partir da vontade de abrir espaço para vozes divergentes que Barbara Lage se inspirou para criar Meu Cacho, Meu Crespo. Realizado junto com o coletivo Negra Sarará, o evento acontece mensalmente no Parque Madureira. A criadora tem grandes ambições: “Nossa meta é ir para outro país e poder trocar conhecimentos e afetos pretos pelo mundo”, finaliza.