O corpo de Ágatha Vitória Sales Félix, de 8 anos, morta com um tiro nas costas dentro de uma kombi no Complexo do Alemão, foi enterrado na tarde deste domingo (22), no Cemitério de Inhaúma, na Zona Norte do Rio.
O fato trágico é uma constatação de que a política de segurança pública do governo Wilson Witzel não consegue obter êxito.
A política de enfrentamento contra o tráfico encontra na sua frente pessoas inocentes na sua grande maioria, pois os moradores das Favelas cariocas estão no meio desse fogo cruzado.
O comportamento do Governo Witzel parece algo do tipo: “Política Higienista”. Aqui neste governo não existe a palavra regeneração – não há tempo pra isso -, o que mais se ouve é derrubar ou abater: qualquer pessoa que esteja portando um fuzil será abatida, disse Witzel em claro e bom som para imprensa (Doeu o meu ouvido, é claro!).
O mais complicado disso tudo é que o Estado parece escolher quem deve morrer e quem merece viver (Achille Mbembe). Não precisa ser nenhum especialista em segurança pública pra sabermos que o modelo de enfrentamento é enxugar gelo. Morre gente dos dois lados. O Estado democrático de direito trabalha para todos. O poder emana do povo, sendo assim, o povo merece um tratamento mais equânime. Direitos iguais pra todos. As UPPs foram, ao meu ver, o Estado dando um tiro no próprio pé. Não ouve um projeto de diálogo com a comunidade e nem parcerias com o público e o privado para mudar a situação social da favela.
É o básico do básico que todo ser humano precisa para viver como cidadão, mas isso demanda tempo e boa vontade e dinheiro. O morador de favela também precisa de saúde, segurança e educação.
Há lugares onde o Estado não entra e nem quererá entrar. Não existe uma política pública de qualidade.
O Rio é uma cidade partida (Zuenir Ventura) no sentido geográfico, político e econômico. Noto também que o preconceito está no olhar do outro. E quem dá nome domina o outro (Nego Bispo). Por exemplo: “Preto é isso ou aquilo!”. Muitos se esquecem de que a favela é linda! A favela é feita de gente que pensa, metade das resoluções das favelas estão nas pessoas da comunidade que mereciam ser ouvidas. O problema é que o poder público quer entrar na favela e mudar a favela, sem ouvir os seus moradores.
O que parece é estamos dentro de um livro que conta a história de um lugar distópico, ou seja, um lugar ou estado imaginário que se vive em extremo desespero e opressão. Nem George Orwell conseguiria imaginar algo tão inconcebível dentro das realidades das cidades.
O problema da política de “tolerância zero” nessa chamada guerra do narcotráfico é que inocentes estão no meio do caminho. E, neste caso, não existe bala perdida. Na minha opinião toda bala que encontra um corpo, infelizmente é bala achada pra morte.
A pergunta que fica é: Quem se importa? Ou qual a próxima morte que vai estourar na nossa cara? No Brasil assim como um escândalo nos faz esquecer outro escândalo. Embora o luto seja necessário, pois precisa ser digerido e superado, uma morte como a da menina Ágatha precisa ser relembrada, chorada e nunca esquecida pela sociedade. Lembro-me de uma música de Seu Jorge como protesto, cantada por Elza Soares: A carne mais barata do mercado é a carne negra.
A mesma carne negra que faz arte e cultura. A mesma carne negra que ajudou a construir este Rio de Janeiro.
A mesma carne negra que ajudou a criar este Brasil.