No futuro não muito distante cientistas sociais haverão de debruçar-se sobre esta quadra de infortúnios e ignorâncias e terão muita dificuldade (senão impossibilidade, pura e simplesmente) em explicar por que cargas d’água Gilberto Gil, a mulher Fora e dois netos foram agredidos verbalmente no estádio onde o Brasil estreou na Copa de 2022 em vitória exuberante sobre a Sérvia, com um gol de Richarlison de voleio encerrando o placar que ele mesmo havia inaugurado.
Ao idiota que o agrediu, eu perguntaria qual Gil ele quis atingir com seus vitupérios e sua falta de civilidade, de educação. O que se despediu do Brasil escorraçado mandando Aquele Abraço inclusive para a Vila Militar em Realengo, em 1969? Para o que cantou a versão de Woman no Cry adaptada aos dias sombrios? Ou para o Gilberto Gil que divide com Chico Buarque Cálice, metáfora/metonímia, figura poética magistral em tempos ainda mais abumbrosos?
Com certeza Ranier Felipe, 43 anos, que se diz empresário em Volta Redonda, não era nascido ou não tinha consciência da vida e suas venturas e desventuras quando o compositor baiano apresentou pela primeira vez essas e outras criações magistrais. Nunca experimentou a prisão arbitrária nem a tortura que seus ídolos atuais infligiram à sociedade. Não conhece um caso de violência policial, uma execução extrajudicial. Não faz ideia do país onde nasceu e vive, com tampouco imagina o que o espera se seus amigos continuarem no poder. Um idiota em estado puro.
Ranier é como a grande massa de desinformados que de tanto se apropriar das migalhas indevidamente acha que todos são ladrões, e apontam os artistas nas ruas porque “são vagabundos que nunca trabalharam”. Como professores, pesquisadores, cientistas, estudiosos e acadêmicos. Ninguém presta. Nunca tiveram que levar para casa uma resma papel A4 da repartição publica, jamais fizeram telefonemas para a família em Deus nos Acuda, interior de Deus me Livre usando o aparelho do trabalho. Nunca chamaram telefone de “aparelho”.
Não é o caso de Ranier, obviamente, que se mostra empresário de sucesso relativo, vai à Copa do Mundo do outro lado do mundo com recursos próprios (espera-se), e com esta autoridade grava e grita para Gil, Flora e os netos “Vai, Lei Rouanet”. O idiota nem sabe a que se refere, daí emenda uma segunda e grita mais alto “Vai, Bolsonaro”, misturando alhos e bugalhos propositadamente para confundir quem o ouvia. Alguns embarcam nessa canoa furada, mas a analise do discurso não dá brecha:
A leitura primeira é clara: Bolsonaro assumiu para destruir a cultura nacional. Seu projeto era fazer do Brasil um apêndice cultural dos Estados Unidos. De cara, extinguiu o ministério e prometeu acabar com a lei de incentivos fiscais à cultura, a Rouanet, que só serviria para artistas enriquecerem e irem à Copa do Mundo no Catar às custas do dinheiro público.
A segunda leitura é: Gilberto Gil é artista famoso, portanto rico graças à Lei Rouanet, foi ministro da Cultura de Lula, que está voltando para restabelecer a verdade sobre os incentivos fiscais, entre inúmeras verdades que desmentirão as fake news de Bolsonaro e família. Por conseguinte, Gil e família terão o mesmo direito de Ranier de ir à Copa sem ser xingados nem agredidos. Isso não é bom pra essa corja.
Será, então, a vitória sobre a burrice, o melhor dos mundos? Não creio, Será somente e apenas a retomada do caminho para reconduzir o Brasil ao lugar que merece entre as nações. Um país cuja gente transite por portos, aeroportos, rodoviárias e ferroviárias com dignidade e respeito por parte tanto dos anfitriões quanto dos patrícios que encontrem no caminho – por que não?
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