Profissionais de saúde agredidos verbal e fisicamente em locais públicos da capital paulista estão longe de ser exceção: em Bogotá, capital colombiana, um médico encontrou o bilhete na porta de casa: “Doutor, se o senhor não for embora, mataremos sua mulher e seus filhos.” Em Buenos Aires, na Argentina, o farmacêutico Fernando Gaitán achou na porta do prédio onde mora outro bilhete: “Vá embora daqui porque vai nos contaminar a todos, seu filho da p…”
Na Cidade do México, onde aconteceram pelo menos 12 ataques em via pública a profissionais de saúde foram adotadas medidas semelhantes às de São Paulo e hospitais recomendam a médicos, enfermeiros, auxiliares e demais trabalhadores do setor não vestir as roupas de trabalho na rua, o que, diga-se, é recomendação rotineira, visto que jaleco e guarda-pó devem ser preservados de ambientes fora dos hospitais, laboratórios, clínicas etc.
Em São Paulo há relatos de uma enfermeira sobre quem jogaram uma marmita na estação do metrô e de um grupo de auxiliares de enfermagem impedidos de embarcar pelo passageiros dentro do vagão. É uma situação delicada porque muitas vezes as pessoas que agridem são as que aplaudem de suas janelas a atuação do pessoal de saúde na pandemia.
É um fenômeno cultural manifestado nos níveis consciente e inconsciente, dizem terapeutas e psicólogos. As pessoas reconhecem a dedicação e a abnegação de médicos, enfermeiros, auxiliares, pessoal de limpeza, enfim, todos os que trabalham nos ambientes de maior risco. São gratos por tê-las à disposição em seus postos – mas apenas neles. Nas ruas, nos coletivos, nos supermercados sua presença inspira medo de contágio e a reação coletiva é cega, burra, animal.
E na América Latina, onde a carência por material hospitalar adequado é maior, a situação é dramática, na Argentina, 20% dos infectados são médicos ou enfermeiras, no Brasil não sabemos precisar esta quantidade e em países onde corpos são largados na rua, como o Equador, o cenário é de ficção de terror.