MANIFESTO DAS ÁGUAS: As mudanças no sistema hídrico, a crise climática e o aumento populacional reforçam a tendência de esgotamento do nosso maior recurso natural: a água. A incerteza sobre o futuro nos impõe um imenso desafio – e o momento atual é crítico para respondermos a ele. Amanhã, sexta-feira, 21, é comemorado o Dia Mundial das Florestas e, no sábado, 22, é o Dia Mundial da Água. Não por acaso as duas datas estão juntas.

É urgente que tenhamos ações incisivas para a proteção dos mananciais e corpos d’água. É urgente que tomemos decisões sobre investimento público em infraestrutura hídrica, em lugar de obras de expansão urbana e rodoviária que ameacem nascentes e áreas de recarga aquífera. É urgente a execução de um trabalho de preservação da qualidade da água potável através de melhorias nos sistemas de fornecimento, reutilização e tratamento das águas. Mais que urgentes são as ações em prol da restauração de áreas degradadas a fim de garantir a regularização da produção de água. O combate às queimadas e à grilagem se inscreve entre as iniciativas de preservação das nascentes.

A despoluição de rios, lagos, lagoas e pequenos cursos d’água se tornou prioridade, junto com a contenção do desmatamento e a proteção das florestas e matas ciliares. A interdependência entre águas e florestas é essencial à vida.

As florestas têm um importante papel na manutenção do equilíbrio ambiental global e na regulação do ciclo hidrológico. Elas influenciam o regime de precipitação, a proteção do solo e dos cursos d’água, a purificação e “reciclagem” da água, o controle de cheias e inundações, impedindo a ocorrência de enchentes e a erosão do solo, o assoreamento de rios, a ocorrência de secas e a desertificação – ou seja, as florestas influenciam a qualidade e disponibilidade de água.

Poucas semanas atrás, um grande incêndio consumiu boa parte do primeiro e único parque ecológico de Camaçari: o Parque Natural Municipal das Dunas de Abrantes e Jauá. É preciso implantar e fiscalizar o quanto antes essa Unidade de Conservação a fim de proteger a mata nativa e os aquíferos existentes nos 344 hectares de extensão do Parque.

Camaçari precisa preservar todas e cada uma das nascentes e cada um dos afluentes de seus dois principais rios: o Rio Capivara Grande, que nasce e deságua em nosso território, e o Rio Camaçari, importante caudatário do Rio Joanes, que fornece água para nada mais nada menos que 40% da população da Região Metropolitana de Salvador. Camaçari precisa ter um novo olhar para suas comunidades rurais, que produzem alimentos sem agrotóxicos e preservam as florestas e os cursos d’água.

Camaçari, a quarta cidade mais rica do Nordeste, segundo dados do IBGE, atrás apenas Salvador, Fortaleza e Recife, necessita de um pacto entre governo e sociedade que irá requerer arranjos de governança fortes, transversais, entre diferentes áreas da administração – gestão territorial, planejamento urbano, meio ambiente, agricultura, saúde, educação, infraestrutura urbana – para atuar de forma complementar e transparente, com amplo acesso aos dados necessários para acompanhamento, fiscalização e pesquisa.

O novo pacto deve basear-se no fortalecimento das instâncias de participação e controle social, como os Comitês de Bacia Hidrográfica, para incluir desde o indivíduo, que precisa ser conscientizado da necessidade de reduzir a quantidade de água desperdiçada, até a esfera produtiva, extrativista, agrícola ou industrial, que também precisa entender a necessidade de reusar a água, captá-la de forma sustentável e reduzir sua contaminação.

O Colegiado Gestão Ambiental vem apresentar uma vez mais as propostas contidas em sua Carta-Compromisso, neste momento de grande mobilização social por investimentos em Planos de Adaptação e Enfrentamento das Mudanças Climáticas e pela construção de uma política ambiental consistente na Região Metropolitana de Salvador, que amplie as intervenções necessárias à defesa e conservação ambiental a todos os segmentos da sociedade. A sociedade humana deve responder com um sonoro “NÃO, NUNCA!” à pergunta que nos faz Aílton Krenak:

Será que vamos matar todos os rios? Vamos fazer com que todos esses seres maravilhosos, resilientes e capazes de esculpir pedras se convertam em risco para a vida e desapareçam?

“Vamos escutar a voz dos rios, pois eles falam. Sejamos água, em matéria e espírito, em nossa movência e capacidade de mudar de rumo, ou estaremos perdidos.”

O apelo para escutarmos a voz dos rios é de Aílton Krenak, líder indígena, escritor e filósofo brasileiro. E o Colegiado Gestão Ambiental, Construção Coletiva buscou em Krenak o entendimento profundo do que representa viver em harmonia com a natureza. O contrário disso significa comprometer a própria vida humana na Terra, como temos testemunhado com frequência cada vez maior nos desastres ambientais ocorridos no Brasil e em outros países.

O Colegiado Gestão Ambiental é o mesmo grupo de ambientalistas que, junto com a OAB Camaçari, promoveu um ato público, em setembro de 2024, para entregar aos então candidatos a prefeito de Camaçari uma Carta-Compromisso com 22 propostas emergenciais para a defesa e preservação do meio ambiente em nosso Município.

Confira na integra a carta compromisso.