O comércio informal é o que mais cresce hoje no país, em consequência do desemprego. Andando pelo Recife e Região Metropolitana, seja nas ruas, ônibus ou metrô, é possível observar centenas de pessoas que vivem do comércio informal e oferecem uma enorme variedade de mercadorias.
O fato é que os informais movimentam grande parte da economia, com maior poder de compra à população, mas são alvo permanente da fiscalização do poder público e exercerem suas atividades irregularmente. “Muita gente não vê solução no trabalho formal e isso faz com que migrem para o comércio informal, que, hoje, cresceu uns 300% em relação há cinco anos não só no Recife, mas em todo o estado de Pernambuco. É um cano de escape que eles acharam para sobreviver”, explica Edvaldo Gomes, 49 anos, presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio Informal (SINTRACI) e ambulante há 40 anos.
Edvaldo afirma que o crescimento da categoria tem relação direta com o desemprego. São 14 milhões de desempregados no país e que optam por trabalhar para si próprios comercializando de um tudo desde pipoca e água a produtos diversos.
O presidente do Sindicato relata que, no Recife, a organização dos ambulantes consegue manter o diálogo constante com a gestão pública por meio da Secretaria de Mobilidade Urbana, que assumiu o compromisso de dar solução aos trabalhadores que foram retirados da Conde da Boa Vista após a reforma da via. Levantamento de março de 2019 mostrou que 324 ambulantes atuavam na avenida. Entretanto, a Prefeitura da cidade disponibilizou apenas 100 estabelecimentos para realocá-
“O poder público é negligente quando se fala em comércio informal, mas essa foi uma vitória da classe trabalhadora, que vem sendo tão perseguida. Recife ainda está conseguindo avançar, mas tem muitos territórios que estão lutando para trabalhar”, completa Edvaldo.
Muitos imigrantes de diversos países vivem no Brasil para tentar melhores condições de vida por meio do comércio informal. Os africanos já são presença constante em ruas e avenidas do Recife. Além do trabalho por conta própria, também precisam lidar com o racismo estrutural que afeta toda a população.
Ahmed Saar, 24, é do Senegal e está no Brasil há seis anos. Ele conta que desde o dia que chegou vive uma discriminação sem fim, que atinge não só ele, mas todos os africanos. “A gente veio atrás de melhorar a vida, trabalhar para nós mesmos, pois a moeda aqui é mais valorizada. Lá, a gente não passa fome, mas não tem trabalho. Sendo sincero, quando eu puder voltar, vai ser de vez, porque é uma vida muito triste a que a gente leva aqui”, reclama.
Além disso, ele ressalta a questão do racismo como dificultador do seu trabalho. “Se eu voltar para o meu país, um dia, a primeira coisa que vou fazer é procurar um programa de televisão para avisar a todo mundo que for viajar sobre o racismo no Brasil. Eu não sabia que era assim, não sabia mesmo. O dinheiro é só pra viver, pagar as contas e ficar liso. Aqui, tinha mais de 150 africanos, hoje em dia não tem nem 15. A maioria voltou, disseram que não valia a pena ser discriminado. Tem muitos estrangeiros aqui, mas quem sofre são os africanos”, completa Ahmed.
Para o Sintraci, a luta para que os ambulantes consigam seus direitos e condições de estabelecer seu comércio de forma plena e digna é constante. Aliada dos trabalhadores, a entidade avalia que as conquistas de espaços e reconhecimento do valor do comércio informal acontece a passos lentos, mas avança.
Reportagem publicada no jornal A Voz da Favela de Recife de fevereiro de 2020.