O ano de 2020, começou com muita vontade e esperanças renovadas para mais um ano de trabalho e realizações. E também com expectativas boas para as comemorações do primeiro ano da sede da ANF em Salvador. Além da continuidade das reuniões de pautas para o jornal A Voz da Favela.
Em janeiro, aconteceu o lançamento da 10ª edição do jornal A Voz da Favela produzida em Salvador, com a colaboração de comunicadores da capital baiana e cidades de outros estados.
A edição comemorativa teve como entrevistado o fundador e diretor da ANF, André Fernandes, que faz um balanço de quase duas décadas da primeira agência de notícias das favelas do mundo e falou sobre novas ações para os próximos anos da agência no Brasil e no exterior.
Fevereiro, além da reunião ordinária para elaboração do jornal, aconteceram encontros para organizar o aniversário da sede, programada para o mês de março.
Em março, mês simbólico para a ANF, pois oficialmente foi iniciado o processo de registro no cartório da sede em Salvador, uma das fases burocráticas para a liberação do CNPJ.
Etapa cumprida com a presença do fundador e diretor da Agência de Notícias das Favelas, André Fernandes, a secretaria executiva, Rose Vitório, e o editor do norte e nordeste, Paulo de Almeida Filho.
Dia seguinte a ida ao cartório, já começava os rumores da pandemia da Covid-19, e o anúncio que os estados e municipais passariam por algumas restrições nos serviços públicos, atendimento ao público de forma presencial, o que se concretizou logo em seguida.
Com o fechamento de secretarias municipais especificas para a regularização da sede, e o serviço na Receita Federal, na cidade, a continuação do registro da sede foi interrompida até o final de 2020.
A partir deste início de 2021, as questões burocráticas serão retomadas para que a conclusão do processo seja finalizada.
Março, também foi o mês de comemoração do primeiro ano da sede da ANF, onde foi possível no dia 14, celebrar com os colaboradores e parceiros institucionais da capital e das cidades da região metropolitana de Salvador, a exemplo de Alagoinhas, Camaçari, Lauro de Freitas e São Sebastião do Passé.
Em seguida, a pandemia da Covid-19 foi confirmada e o estado de calamidade pública instalado em várias cidades do país, incluindo Salvador.
Os encontros presenciais foram interrompidos para evitar aglomerações, foi necessário suspender a produção do jornal, devido as dificuldades financeiras impostas pela situação econômica que assolou diversas organizações sociais, não sendo diferente com a ANF.
Vida Longa ANF! Uma grande nascente, fonte de inspirações a duas décadas matando a sede de um POVO as margens da sua própria identidade que se reafirma através de luta e resistência e de espírito “Faveliano” seguindo a transposição de um povo único em busca de um Mundo melhor. Sinto a sensação de um filho adotivo que segue a essa família a transformar!”, comenta Valmir Santos, educador social, denominado Pedagogo da Favela e da Zona Rural, residente em Alagoinhas- Bahia.
Mesmo com as dificuldades internas, a ANF não parou de produzir conteúdo, pelo contrário, mobilizou sua rede de colaboradores para continuarem suas contribuições via o site e assim tem acontecido diariamente.
Para Junior Silva Cardeal, colaborador da ANF, em Recife- Pernambuco. “É motivador fazer parte da agência pela possibilidade das causas referentes as favelas e periferias, e o seu cotidiano ter visibilidade, coisa que não há esse espaço pela mídia convencional. Importante a oportunidade que a ANF oferece para disseminar as ideias de protagonismo das favelas e seus respectivos moradores que constroem o processo de cidadania na base”.
A atuação da ANF também é uma possibilidade de criar pontes o que agregou bastante na vivência de Junior.” A minha ação de questões sociais, culturais, só se fortaleceram com essa oportunidade. Aumentando meu campo de visão política social. Tendo a agência como instrumento que agregou na minha caminhada da comunicação comunitária e a arte de rua”.
O colaborador Arimateia Bispo, de Teresina- Piauí, reforço o coro sobre a importância que a agência tem para os moradores das periferias, oferecendo a oportunidade para que estes contem suas histórias.
“Sempre busquei um espaço para publicar minhas produções culturais que são desenvolvidas na minha comunidade, cidade e estado, por grupos ou pessoas, que lutam diariamente para manter as ações sociais apesar das dificuldades”. Arimateia, é formado em Serviço Social, artes cênicas e desenvolve atividades de capoeira.
Campanha social
A rede continuou ativa, a família ANF se manteve unida, mostrando que a dificuldade de momento serviria para unir cada vez mais os membros para o objetivo comum pela democratização da comunicação e a empatia com as minorias.
Paralelo a isso, foi iniciada uma campanha para ajudar famílias que estavam em situação de alta vulnerabilidade diante da pandemia que se instalava em várias partes do Brasil.
A campanha nacional ANF Contra Coronavírus, atendeu 68 famílias de várias cidades do país, divididas em 4 estados, para receber um valor mensal como suporte financeiro para as necessidades básicas urgentes.
Projeto Google
Em meio a pandemia, entre algumas perdas, a ANF teve alguns momentos de alegria, um deles foi ter tido projeto aprovado no edital do Google, para escrever matérias sobre a pandemia da Covid-19 nas periferias do Brasil.
Foram selecionados dez jornalistas, entre estudantes e profissionais, de regiões e estados diferentes, o que possibilitou alcançar novos colaboradores através que escreveram sobre a pandemia da Covid-19 nas suas periferias.
Entre as pessoas selecionadas, três colaboradores foram selecionadas da região nordeste.
Camila Silva, jornalista, de São Luis, Maranhão, que relata sobre seu interesse em fazer parte da ANF. “Minha motivação para me tornar colaboradora da ANF está relacionada à atuação da agência na Comunicação Comunitária brasileira e ao lugar conquistado por ela dentro do segmento no país. A dedicação e esforço de todos para que o trabalho aconteça são inspiradores a nós que chegamos nos últimos tempos. É uma grande honra fazer parte dessa história”!
A chegada de novos colaboradores, de outros estados e regiões do país contribuiu de forma positiva, não apenas quantitativamente, mas de maneira qualitativa, inclusive para que a agência pudesse compreender melhor a realidade de locais que até então não se tinha um representante da ANF.
Com a dificuldade para os encontros presenciais, possível realizar, mesmo que de maneira remota encontros regionais e nacionais, com o objetivo de manter fortalecido o vínculo que vem sendo construído ao longo desse tempo e também para ampliar a atuação dos colaboradores.
Nessa perspectiva de ampliar os horizontes da comunicação comunitária que chegou para acrescentar no time, Jamili Vasco, estudante de jornalismo na Faculdade Tiradentes, em Aracaju-Sergipe. Ela também foi selecionada através do edital do Google.
Jamili comenta que sempre tinha o desejo que escrever para um veículo de comunicação e ficou muito feliz em ter sido selecionada pela ANF diante de toda história da agência. “É muito importante o trabalho que a ANF faz, possibilitando que as pessoas que estejam a margem, que não são ouvidas, tenham espaço para colocar sua voz. Além do diferencial nas pautas, onde coloca como protagonista as pessoas das periferias, fazendo um jornalismo responsável. A ANF é muito necessária na sociedade”.
No campo profissional, Jamili relata o que essa experiência tem agregado no seu currículo, principalmente na escrita, produção de texto. “As matérias que já escrevi foi incrível poder ouvir as pessoas, sentir as histórias que eu contei, valorizando as pessoas da minha comunidade como fontes relevantes para um veículo de comunicação, sem exploração, vitimização, apelação, mas com um olhar humano, com histórias de superação em meio a pandemia”.
A terceira colaborada selecionada foi a jornalista, Géssika Costa, que mora em Maceió- Alagoas. Ela comenta que sempre ouvia falar da ANF, bem antes de ser jornalista. “Sempre tive uma admiração pelo trabalho realizado durante tantos anos e quando percebi que poderia fazer parte também da equipe de colaboradores, não pensei muito, fiz minha inscrição”.
Entre as pautas que Gessika tem mais afinidade ela destaca as matérias sobre questões do cotidiano da periferia de Maceió, sobre habitação, questões relacionadas a moradia, direito ao lar que todo cidadão precisa ter, segurança pública e os bons exemplos que surgem dentro das favelas.
A seguir confira as capas das 12 edições do jornal A Voz da Favela produzido em Salvador entre abril de 2019 a de 2020.