Ano novo, política de extermínio velha. 2017 foi embora, mas é como se nada tivesse acontecido para os milhares de moradores de favelas do Estado do Rio de Janeiro.
Já no primeiro dia do ano, um intenso tiroteio foi registrado na favela da Rocinha. Em outras favelas, como Chapadão, Jacarezinho, Complexo do Alemão, Fallet, Fogueteiro, Santa Marta, entre outras, a rotina continua a mesma: tiroteios frequentes entre policiais e traficantes aterrorizam as comunidades. Como de costume, o Estado se mostra presente apenas com as forças de segurança.
Na semana passada, um crime chamou a atenção. Um delegado da Polícia Civil do Rio foi assassinado e seu corpo deixado perto da favela do Jacarezinho. Nas horas seguintes, as forças de segurança do Estado declararam guerra não só aos traficantes locais, como a todos os moradores da favela. A cena das dezenas de pessoas sendo presas e encaminhadas para a Cidade da Polícia, como bem disse a companheira Simone Menezes em sua coluna de ontem, lembra o embarque de escravos nos navios negreiros dos séculos XVII e XVIII. Foram dezenas de denúncias dos moradores sobre a postura extremamente violenta dos policiais: invasão de casas sem mandado judicial, esculacho, espancamento. Ali perto, em ação da Polícia Militar na Mangueira, quatro supostos traficantes foram mortos numa troca de tiros – mais um auto de resistência para a conta da PM.
Voltando ao Jacaré, a campanha de guerra segue com cenas inacreditáveis. Helicópteros da Polícia Civil disferem várias rajadas de fuzil em direção a suspeitos, casas e estabelecimentos comerciais. A situação é tão absurda e surreal que sobrou até para a base da UPP – Unidade de Polícia Pacificadora, da localidade conhecida como Azul. Vários tiros foram efetuados a poucos metros de distância do contêiner onde os policiais ficam baseados. A informação é que a campanha de guerra continuará até a polícia prender os responsáveis do assassinato do delegado.
O pior de tudo nessa história é ver a inércia do Ministério Público e da Justiça ao se omitirem vergonhosamente sobre a conduta das polícias do Estado do Rio de Janeiro. O silêncio das classes mais abastadas e ricas, a chamada elite branca da Zona Sul, também legitima essa política sangrenta fantasiada de “guerra às drogas”.
Um dia, a história vai cobrar por esse silêncio.