Antes do Amanhecer

Tá Foda, obra do artista plástico Gabriel Grecco. Arquivo pessoal.

Arte é imprescindível para o ser humano. Ela se faz tão importante quanto comer e respirar. “A arte serve para dizer o que outros gostariam de dizer” (Lygia Fagundes Telles). Do mesmo modo, “A arte não deve sofrer restrições, senão por ela mesma”, disse Albert Camus. O verdadeiro artista não separa arte popular ou erudita, uma vez que aquilo que chamamos de erudito nasceu do meio do povo: as peças de Shakespeare encenadas ao ar livre, por exemplo.

Já pude estar diante do surrealismo de Dalí, do impressionismo de Monet e do modernismo de Modigliani. Mas, confesso, nada atualmente me chamou mais a atenção do que a obra do artista plástico Gabriel Grecco. A sua obra contemporânea se descortina no seu ápice, seja em estilo, escola ou movimento. Ele revela o que está diante de nós, mas por vezes não percebemos ou preferimos negar.

Grecco consegue retratar o cotidiano e os personagens da vida real com o olhar acurado de um mestre. Personagens esses com traços fortes e autênticos. Sua obra ganha ainda mais importância quando pensamos que o mundo atual perdeu a capacidade de enxergar o outro. Algo beira o jeito blasé ou nauseante. Tudo parece se desmanchar no ar, como diria o velho polonês. Mas, no caso do artista niteroiense, nada passa despercebido do seu olhar caleidoscópico.

Ao término da exposição, disse ao artista: “Rapaz, foi um alumbramento só!”. Eu estava em estado de Êxtase. Gabriel Grecco entende que “a arte é o lugar da liberdade perfeita” (André Suarès, poeta e crítico francês).

Não há como sair da exposição “Antes do Amanhecer”, no *Solar do Jambeiro, em Nikiti, no Ingá, com o mesmo olhar sobre o mundo. Grecco cumpre o papel do verdadeiro artista, pois ele é provocador e traz em suas telas questões que nos fazem refletir. E quando perguntado o que é a arte, responde: “Arte, pra mim, é o nosso sentimento mais livre e verdadeiro que leva o outro a pensar”.

O Artista Plástico é um cronista do cotidiano. Seria um Dalton Trevisan ao dar um zoom na alma humana ou o romancista Rubem Fonseca mostrando o jeito de uma sociedade singular? Gabriel se destaca como um dos maiores pintores da nova safra. Quando saí da exposição fiquei pensando: “a arte salva!”

Todo artista é um Dom Quixote lutando contra os moinhos de vento reais. Sua obra é prova de que a Arte não precisa de justificativa, como afirmou H.R. Rookmaaker. Antes de cada amanhecer, sempre nos restará a esperança de dias melhores.

Todo pintor tem o universo na mente e nas mãos, segundo Leonardo Da Vinci. Gabriel Grecco é um desses artistas.

*Sala de exposição, em Nikiti (Niterói), cidade na região metropolitana do Rio, no bairro Ingá.