Manifestações antirracistas em várias partes do mundo que se seguiram ao assassinato de George Floyd, negro de 46 anos, em maio nos EUA geraram um subproduto perceptível no Brasil: o esforço para ampliar a presença negra entre os candidatos competitivos, já que, segundo o IBGE, mais da metade da população de negros, aí compreendidos pretos e pardos. No entanto, ele continuam sub-representados na política.
Levantamento feito nas eleições municipais de 2016 revelou que candidaturas negras para vereador somavam 48% entre os mais de 437 mil aptos na disputa. Entre os eleitos, esse percentual caiu para 42%. Entre os pretos, apenas 0,5%. Na Câmara de São Paulo, por exemplo, as 55 vagas foram disputadas por mais de 1.200 candidatos, 32% negros. Entre os eleitos, porém, eles foram apenas 18%.
Segundo o presidente do MDB Afro, Nestor Neto, o partido estima lançar mais de 2.500 candidatos negros para vereador e cerca de 100 a prefeito neste ano. No dia 21 de julho, o núcleo lançou o programa “Vidas e sonhos negros importam”, com eixos a serem debatidos por todos os integrantes e pré-candidatos do MDB ao longo do mês de agosto.
No PT, a secretaria nacional de combate ao racismo, presidida por Martvs Chagas, realizou encontros regionais de formação online, tanto em questões políticas como de comunicação e aspectos jurídicos, com pré-candidatos negros de todos os estados. Eles somam cerca de 35% dos mais de 18 mil inscritos para a disputa eleitoral pelo site da legenda até o momento e podem crescer.
“Nosso objetivo é dizer para os candidatos que uma pauta como essa é também civilizatória. O Brasil jamais poderá se constituir enquanto nação enquanto tivermos esse absurdo de desigualdade social e racial que nós temos.”
Uma preocupação comum dos dois líderes é fazer com que os partidos invistam mais nesses candidatos. Nestor já disputou seis eleições, metade delas sem receber nenhum recurso da legenda, e diz que esse é um dos fatores que prejudicam os candidatos.
“Não dá pra pegar um candidato e não dar estrutura. Senão, vai ser candidato tampão. Nossas candidaturas não têm apoio do fundo partidário, mas nesta eleição nós queremos”, diz, informando que encaminhou para a presidência do partido o pedido de 5% dos fundos para candidaturas negras.
Martvs, por sua vez, diz que no PT há uma proposta de destinar um percentual de recursos para candidaturas das secretarias nacionais da sigla, com um valor maior para negros, LGBTs e jovens. Também deve circular entre os petistas um abaixo-assinado para que a legenda, que tem o maior montante do fundo eleitoral, distribua os recursos de forma proporcional para candidaturas negras.
Dados da pesquisa Democracia e Representação nas Eleições de 2018, da FGV Direito, mostram a desvantagem de mulheres e homens negros que disputaram o cargo de deputado federal em termos de recursos. Mulheres brancas eram 18,1% das candidatas e ficaram com 16,2% da receita, enquanto as negras eram 12,9% e receberam 5,7%. Entre os homens, os brancos eram 43,1% dos candidatos e receberam 61,4% da verba, enquanto os negros eram 26% e tiveram 16,7% dos recursos.