Se tem uma coisa nesta cidade que não é mentira para ninguém é que alguns setores da burguesia da Zona “Suis” têm a certeza que são os donos da cidade e que a cidade é a Zona Sul. O que mais me chamou atenção nesse caso é que, dos 40 quilômetros de litoral da cidade do Rio, a confusão aconteceu apenas em 200, no Arpoador, e ganhou uma repercussão internacional que não mostrou que nas demais praias cariocas tudo rolou tranquilamente.
Arpoador que parece ter o DNA para esse tipo de confusão. Nos meus tempos de moleque, quando tinha os bailes de briga, era ali que a juventude pobre carioca ia extravasar suas frustrações sociais e econômicas em forma de embates emblemáticos, que muitas vezes não terminavam bem. Na Eco 92 éramos constantemente retirados dos ônibus pelos militares, revistados repetidas vezes e esculachados, mas, como não tinha internet, tudo caía no ostracismo.
No programa Documento Especial, da extinta TV Manchete, de 1989, é possível notar todo o preconceito e rancor que a burguesia sente em relação aos pobres que saem de longe e pegam duas, três conduções para encontrar lazer. Como somos brasileiros e não desistimos nunca, continuamos fazendo esse sacrifício sorrindo e cantando. Aí que os playboys morrem de raiva… Quero ver essa mesma raiva contra as novelas de Manoel Carlos, que descrevem a Zona Sul como o melhor lugar para se estar. E, bem, se é o melhor lugar para se estar, eu quero estar lá. Ou melhor, eu tenho o direito de estar lá!
A tendência é a situação piorar com a proximidade das Olimpíadas. Entrará em vigor uma mudança no itinerário de várias linhas de ônibus, com a justificativa que muitas fazem o mesmo trajeto. Gostaria de lembrar às madames que o mesmo busão que leva os menores para praia, leva o porteiro, o motorista, a babá, a diarista, etc. Vai atrasar o café, a ida das crianças para a escola, a limpeza… Não adianta, no mundo capitalista em que não há divisão de privilégios, sobra ônus social. Está cada dia mais tenso nas praias, nas favelas, no Oriente Médio, na África… Milhões de pessoas refugiadas pelo mundo, que vive uma ordem louca, violenta e infeliz. Este filme tem que acabar de uma forma ou de outra, do contrário irão surgir grupos radicais – vide Niterói – que vão infernizar os pobres. Que por sua vez vão atacar os ricos. E o ciclo se repetirá.
Só sei que vou à praia com ou sem dinheiro.