Recentemente li um texto da intelectual negra bell hooks (essa autora opta por escrever o nome em letras minúsculas) Vivendo de amor. Fazia tempo que não li algo que mexia profundamente comigo, com minhas feridas, com minhas dores.
Nesse texto bell hooks nos aponta a necessidade do amor entre nós negras e negros e do amor interior. Entendi que de fato amar é um sentimento e uma ação que precisamos sentir e praticar diariamente. O incrível foi perceber o quanto a herança da escravidão atravessa o nosso sentir e praticar o amor, pois em tempos sombrios como aqueles da escravidão, era preciso oprimir as emoções, uma vez que sentir poderia implicar em mais castigos.
No pós-abolição a suposta supremacia branca permanecera e o racismo também, o que implicou na permanência da violência contra nossos corpos. Nossos ancestrais viram seus amores serem assassinados e nada podiam fazer, oprimir as emoções era uma estratégia de sobrevivência. Hoje estamos aprendendo o que é o amor, estamos podendo satisfazer as necessidades emocionais e não somente as materiais.
Precisamos escolher o ato de amar e ser amada, isso é uma ato de liberdade, é transgredir a ordem racista que nos quer somente como mulheres negras, homens negros, crianças negras fortes, que não choram e não demonstram gestos de fraqueza, porque no pós-abolição a opressão dos sentimentos como estratégia de sobrevivência ainda não foi superada. É hora de nos amarmos e nos cuidarmos, chega de opressão.