Apropriação cultural no carnaval

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Ultimamente, as redes sociais têm sido o ponto de partida de várias polêmicas pontuais. Desde a repercussão da hashtag #MeuAmigoSecreto, pessoas de diversos grupos usam a rede para denunciar o que consideram controverso na intenção de atenuar esses efeitos. Hoje, o que mais se lê nas redes são as chamadas “tretas”. Treta é quando uma pessoa denuncia ou escreve algo que considera reprovável. Temas como machismo, feminismo e homofobia são os mais recorrentes, porém, agora, com a proximidade do carnaval, fantasias, letras de marchinhas e a abordagem na paquera têm sido também muito discutidos. Mas um dos assuntos mais quentes do momento é a apropriação cultural.

Do meu ponto de vista de homem, heterossexual e negro, posso dizer que existe, sim, a tal apropriação, mas a discussão tem se mostrado radical e sectária às vezes. Outro dia, uma amiga relatou que estava com um colega num ponto badalado da cidade indo a um evento de carnaval. Os dois usavam enfeites de fantasia. Ele usava uma peruca black power. Ao chegarem na festa, um grupo de homens pretos o encarava e então do nada um deles puxou a peruca da cabeça do cara e jogou no chão. Ele não entendeu e a recolocou na cabeça. Então, veio outra pessoa e jogou pela segunda vez. Ao pegar a peruca e colocar de novo na cabeça, o trio de rapazes começou a gritar: “Racista! Racista!”. Acuado, o rapaz se assustou e foi embora.

A discussão mais acalorada no momento são as questões relacionadas à negritude e o uso de elementos tradicionais negros. Tenho visto relatos de mulheres brancas, que têm sido criticadas por usarem roupas com temas africanos. São acusadas de se apropriarem da cultura negra. Mas como se configura uma apropriação? O colunista Geledés – Instituto da Mulher Negra Caio Cezar dos Santos define bem o que eu entendo nesta questão em texto recentemente publicado no portal:

“Quando uma revista usa mulheres brancas pra falar sobre turbantes, ela conversa sobre beleza, sobre tendência, sobre estética e/ou adorno. Quando a pauta é com mulheres negras, o papo já é sobre militância, empoderamento, resgate cultural e combate ao racismo. E é por isso que mulheres brancas são chamadas, porque as revistas não querem falar sobre esses ‘assuntos chatos’. Sem contar que o rosto branco, numa sociedade racista, vende mais.”

E assim finaliza:
“Eu, como negro, não tenho poder pra permitir ou proibir qualquer pessoa de usar, cantar ou fazer parte de algo. O que pretendo com esse texto é trazer ao entendimento das pessoas que percebam como a indústria trata uma cultura a partir do momento em que ela se populariza. Que há uma diferença de tratamento quando pessoas brancas e pessoas negras se utilizam da mesma cultura.
Tudo que nós negros queremos é não sermos marginalizados e/ou esquecidos dentro da nossa própria cultura.”

Assino embaixo.