Desde que me entendo por gente, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) sempre foi um lugar mágico pra mim. Mesmo não tendo estudado lá, fui um frequentador quase assíduo de lá durante a minha adolescência. A primeira vez que atravessei aqueles portões foi nos anos 1980, ainda durante o Regime Militar. A Concha Acústica da UERJ era um espaço de resistência cultural e política. Não era raro acontecerem diversos shows e apresentações de grandes artistas do teatro e da MPB.
Rolavam também campeonatos de futebol e outras atividades esportivas – não era preciso ser aluno para participar. E o bandejão a CR$1? Comida farta e boa, acessível para qualquer um. A universidade é pioneira no sistema de cotas raciais e, mesmo antes de adotar essa política, era vista como a grande esperança do carioca pobre e favelado para conseguir se formar. Meu irmão se formou em Direito na UERJ e fez concurso para defensoria pública a fim de retribuir o investimento que o Estado fez nele. A Uerj tem vários momentos mágicos que entraram para a história. O discurso de Fidel Castro certamente é um deles e, recentemente, o ex-presidente do Uruguai Pepe Mujica lotou a Concha Acústica numa noite de segunda=feira.
O programa político do grupo que governa a cidade, o estado do Rio de Janeiro e o país é exatamente esse: alijar o ensino de pensamento crítico e ideológico. O projeto recém-aprovado de reformulação do ensino e o polêmico Escola Sem Partido são a provas disso. Não há interesse em investir em educação, pois tudo o que eles pretendem é manter o país no atraso e no retrocesso.
Esse grupo que governa o estado há quase duas décadas e que governou a cidade por oito anos quer botar em prática o projeto de venda do patrimônio, sucateamento dos serviços públicos e de desmonte dos programas de saúde e educação, assim como no caso dos bondes de Santa Teresa, Maracanã e outros símbolos da cidade hoje à mercê desta visão exploratória. Fica clara a real intenção deste governo: tirar qualquer possibilidade de a população pobre e favelada transformar suas vidas através do conhecimento e educação. Assim, privatizam e violentam universidades e escolas. O ensino e o conhecimento ficam completamente em segundo plano. O fechamento das Bibliotecas Parque é mais um crime contra a população carioca: uma das poucas realizações importantes do governo anterior fechou as portas no fim de 2016.
Está claro como o dia que o governo quer privatizar o ensino público do estado do Rio de Janeiro, a começar pela UERJ. A pergunta é: vamos mesmo deixar isso acontecer?