Artesãs do bairro Pontal da Barra, na parte baixa de Maceió, têm tentado driblar a crise no setor turístico, ocasionada pela pandemia da Covid-19, produzindo máscaras com o tradicional bordado de filé, renda inspirada no trançado das redes de pescadores, Patrimônio Cultural Imaterial de Alagoas. A alternativa teve início devido ao prejuízo sentido dois meses após o fechamento de suas lojas em razão das medidas de enfrentamento ao novo coronavírus.
A administradora de empresas e artesã Gilvanez Nascimento, de 38 anos, moradora do Pontal há quase 30, foi demitida um mês antes do decreto de pandemia. Paralelo ao seu trabalho formal, mantinha um estabelecimento como segunda renda da casa. Com o fechamento do local, teve que reformular a maneira de vender seus produtos. “As artesãs aqui trabalham geralmente para os lojistas ou para elas mesmo. A gente sobrevive do turismo e ele praticamente foi extinto. Então surgiu a ideia de fazer máscaras com a aplicação do bordado filé”, explica.
Gilvanez Nascimento explica que foi necessário investir nas redes sociais para atrair novos clientes. “Minha loja tinha 320 seguidores em março. Hoje, a Arty Filé Bordados Alagoas trabalha o marketing digital e conseguiu quintuplicar esse número e aumentar a capilaridade de pessoas que conhecem e podem ser potenciais compradoras”, destaca.
Segundo Gilvanez, esse período de pandemia fez despertar algumas estratégias para que o negócio seja direcionado não apenas aos turistas, mas aos moradores da capital alagoana e redondezas. “Quando tudo isso começou, acreditávamos que não ia durar muito. Os dois primeiros meses foram desafiadores, mas com a ideia das máscaras estamos construindo também a fidelização do público local. Essa é a nossa luta”, ressalta.
O distanciamento social provocou novos hábitos nas pessoas, inclusive de consumo. “A venda de máscaras projetou a comercialização de outros itens para quem mora por aqui. Como as pessoas estão passando mais tempo em casa, elas têm investido na compra de sousplat, toalhas de mesa, cortinas entre outros. Não é possível ainda comparar com o lucro obtido noutros momentos, mas aos poucos vamos tentando nos restabelecer”, pondera Gilvanez Nascimento.
A presidente da Associação das Rendeiras do Pontal da Barra, Adriana Gomes, explica que a venda de máscaras não seria suficiente para o lucro das artesãs. “A máscara é vendida a um preço de R$ 15 a 17. Então, se você levar em consideração que a maioria precisa comprar o produto de uma costureira para só depois aplicar o filé, o lucro fica irrisório. A estratégia não era apenas vender as máscaras, mas trazer quem mora na cidade para comprar outros produtos”, ressalta.
A Associação das Rendeiras do Pontal da Barra, que existe há 60 anos, tem na venda do artesanato sua maior fonte de renda, sendo responsável pelo sustento de aproximadamente 600 famílias na região. “Acho que esse foi o bairro da capital que foi mais afetado economicamente. Pararam os restaurantes, nossas lojas e também as pessoas que trabalham com o passeio às lagoas, entre tantos outros”, explica Adriana.
Segundo ela, cerca de 80% das pessoas que residem no bairro foram duramente atingidas. “Estou pensando, inclusive, em entrar em contato com o secretário de turismo de Maceió para sugerir a ele algum tipo de campanha ou algo que possa dar visibilidade para aumentar as vendas”, acrescenta.
Em maio deste ano, a Governança da Prefeitura de Maceió por meio da Secretaria Municipal de Economia (Semec) e da Secretaria Municipal do Trabalho, Abastecimento e Economia Solidária (Semtabes) desenvolveu o Projeto Minha Máscara.
Com mais de 39 mil visitas ao hotsite, a iniciativa tem como objetivo mapear artesãos e costureiras do município que produzem máscaras de tecido e facilitar a identificação deles para a venda desses produtos, principalmente, dentro da própria comunidade, de forma segura.
O mapa com os profissionais cadastrados pode ser acessado por smartphone ou por computador aqui. O usuário deve clicar no ícone verde que estiver mais próximo ao bairro que reside. Feito isso, será informado com o nome e o contato do artesão.
Esta matéria foi produzida com apoio do Fundo de Auxílio Emergencial ao Jornalismo do Google News Initiative