No Brasil dos últimos tempos tem se falado muito de Nazismo e Fascismo. De maneira bem abreviada e simplista trata-se de políticas, que visam o domínio de um grupo dito superior sob outro considerado inferior intelectual, espiritual e moralmente.
Onde o grupo superior oprime, caça e extermina os inferiores, ou seja, todos que não se pareça com ele. E, faz isso através de discursos, para inflamar seus membros a agirem com violência contra quem não é digno, segunda sua ótica e com políticas públicas (retirando verbas, finalizando e/ou criando programas e perseguindo movimentos sociais, que dão suporte as minorias) quando chega ao poder.
Mas, o que não se fala ou pouco se discute é que o Nazismo e Fascismo são baseados em uma pseudociência, que já foi aceita como ciência de maneira incontestável, chamada: Eugenia. Abraçada, debatida e divulgada por estudiosos e intelectuais do mundo todo, incluindo do Brasil, o pai da boneca Emília, o escritor Monteiro Lobato, entre outros.
Em 1859, em seu livro: A Origem das Espécies, Charles Darwin defendia que na natureza, apenas as espécies mais fortes, as mais perfeitas conseguem sobreviver na seleção natural. Francis Galton, primo de Darwin, e baseado na obra A Origem das Espécies, criou o conceito Eugenia, que seria o melhoramento de uma espécie de forma artificial.
Como muitos pensadores da época, Galton acreditava que a “raça” humana podia ser melhorada, uma vez, que evitasse “cruzamento indesejáveis”.
Objetivo era de incentivar o nascimento de indivíduos notáveis e aptos para a sociedade e coibir o nascimento do inapto. Se propôs testes de inteligência para selecionar homens inteligentes e mulheres brilhantes, destinados a reprodução seletiva.
A Eugenia foi divida em Eugenia positiva: incentivos materiais para que os seres superiores desenvolvam habilidades e a Eugenia negativa: impedimento dos seres ditos inferiores se reproduzem para não passar seus genes “defeituosos”.
Entre esses inaptos e genes “defeituosos” estavam pessoas como eu, as pessoas com deficiência. Sim, o Fascismo e o Nazismo foram gerados e paridos pela Eugenia, que alimentou, fortaleceu e deu ferramentas novas e perigosas para o Capacitismo, que nós conhecemos hoje. O que seria o Capacitismo, então? O preconceito estrutural, que oprime, nega a existência e a humanidade das pessoas com deficiência, como também, veta direitos e bens para elas.
Na Alemanha de Hitler, berço do Nazismo, o governo com o Programa T4, de acordo com documentos históricos, matou mais de duzentas mil (sim, 200 mil!) pessoas com deficiência!… E foram mortas em Campos de Concentração com injeções letais e câmaras de gás!…
Então, não podemos esquecer, que o Fascismo/Nazismo, ou seja, o Nazifascismo está pautado na falsa ciência (Eugenia) criada pelo primo burro e recalcado de Darwin, Galton, que deu corpo e força ao capacitismo, que está entre nós, que nos coloca como coitadinhos, anjinhos e especiais. E assim, ficamos renegados à parte da sociedade, porque não produzimos ou consumimos segundo a lógica do capitalismo. Portanto, o mundo não é projetado nem as pessoas são educadas, para nos receber ou acolher! Parece, que somente a Trindade sombria e medonha, composta pelo Nazismo/Fascismo, Eugenia e o Capacitismo nos olha, e tenta nos alcançar.
E eu vejo e sinto o Capacitismo o tempo todo em tudo. Pode até parecer mania de perseguição. Mas, ele está nos pequenos e grandes detalhes do meu dia-a-dia.
Vou exemplificar com algo que acontece comigo.
Quando se falava (e ainda se fala), que pessoas com deficiência não podiam (não podem) ainda, que indiretamente ter filhos. Não se estar falando só na transmissão de genes, mas, também, na perspectiva de que as pessoas com deficiência não podem cuidar, proteger e prover um filho. Eu sinto isso na pele e na alma. Quando conheci a minha esposa, a nossa filha já tinha nascido saudável, linda e já também, crescida. Mas, nunca houve um pai. Houve negligência, abandono, no máximo, obrigações frias e alheias. Então, eu escolhi ser pai de uma menina magricela, de sorriso aberto e olhos curiosos, vívidos e luminosos! Mas, há 11 anos, tenho quase que constantemente provar para as pessoas, até algumas da minha família que sou, que posso ser pai. Pois, elas insistem em chamá-la de: “a filha de Inglid. (Minha esposa)” Tenho que estar pronto, para tentar convencê-las, que o ser pai estar para muito além da figura caricata do homem das cavernas feroz, com tacape nas mãos para abater uma caça, ou um sujeito, que sai ás cinco horas da manhã e chega às 8 horas da noite, que mal tem tempo de conhecer, de estar, de cuidar, proteger ou brincar com sua prole. E este tem de fazer isso, para comer e alimentar seus filhos.
Então, eu tento lhes explicar didática, clara e pacientemente, que o cuidar e o proteger que não estão ligados apenas às ações físicas ou violentas. Quanta gente tem pais que andam, que podem trocar socos e pontapés por elas, mas jamais se sentiram protegidas ou cuidadas por eles?
O cuidar e o proteger também é fazer com que a outra pessoa sinta-se amada, especial, indispensável, necessária e única, isso se faz, sobretudo, com palavras verdadeiras e presença. E uma coisa, que eu aprendi com a vida e a faculdade de psicologia: Não há nada que nos dê mais proteção nesse mundo do que a certeza e a lembrança de que nós somos amados e queridos! São para as lembranças e memórias amorosas e felizes, é que vamos nos dias ruins!
Sim, é dessa forma também, que eu cuido e protejo a minha filha. Se depender de mim ou da mãe dela, será sempre bem cuidada e protegida emocional, psíquica e psicologicamente! Além dos nossos esforços físicos e materiais por ela, que tenho certeza, que não a faz se sentir abandonada.
As pessoas não compreendem ou, infelizmente, não estejam acostumadas (até mesmo minha filha ainda) com essa dimensão da paternidade. Uma dimensão de uma paternidade sensível, amorosa, gentil, concreta, que não tem medo de emoções e sentimentos, que não é só presença física e cumprir obrigações sociais, para não sofrer consequências judiciárias.
Outra coisa, por uma condição física e capacitista da sociedade, não posso trabalhar como boa parte das pessoas. Por mais incrível que pareça, eu também trabalho. Ainda que seja em home Office, nem devidamente remunerado, ou braçal (como a maioria enxerga como única forma de trabalho possível, para pobre e preto). Posso prouver um filho. Aliás, eu sou uma pessoa. Surpreso? Surpresa?
E, para concluir esse pensamento, nós, pessoas com deficiência, militantes e aliados da nossa causa, não podemos deixar cair no esquecimento, que o Nazismo/Fascismo é igual à Eugenia. E Eugenia é igual ao Capacitismo, que é igual à opressão, para nós.
Muitas vezes, partidos nesse espectro político querem nos transformar em uma bandeira, não a fim de nos ajudarmos na nossa emancipação. Mas, para ganhar mais votos, porque nos tornam objetos da sua caridade vazia e hipócrita. E como pessoas de direitos e deveres, de sonhos, vontades, falhas e acertos, nós precisamos de políticas públicas e respeito e não caridade, onde só um lado se sente bem!…
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