As artistas baianas, Lívia Passos e Luzimar Azevedo, fazem uma mostra gratuita, intitulada, ‘Desassossego’, até o dia 22 de setembro, na Câmara Municipal de São Paulo, no Palácio Anchieta, das 10h às 17h, de segunda a sexta-feira.
A mostra conta com curadoria do Dr. em Arte e História da Cultura, Oscar D’Ambrosio, e tem a intenção de apresentar a busca pela ancestralidade, o pensar sobre o tempo presente e uma sociedade melhor em amplas perspectivas.
Natural de Salvador, Luzimar Azevedo fala sobre a felicidade em ser convidada para expor na capital paulista. Esse reconhecimento em ser lembrada para compor a equipe de artistas reafirma o sentimento de pertencimento dentro do cenário artístico e o valor que esse movimento carrega. “A cultura é uma das mais fortes características da cidade de São Paulo, quinto lugar do mundo com mais museus. Estar participando pela primeira vez de uma exposição nesta cidade e na sua Câmara Municipal está sendo fantástico para uma artista de 71 anos de idade, e que, somente aos 65 anos, deixou a arte entrar forte e invasiva na sua vida”, comemora.
Para a mostra, Luzimar conta que explora uma temática específica, baseada na condição humana, evidenciando elementos da cultura baiana e da sua história.
“Minha pesquisa e estudo sobre a condição humana, social e política, conduzem desde o início, minha criação artística em meus anseios de interpretar, buscar respostas e visibilizar caminhos para a nossa sociedade. Minha arte respira ancestralidade e minha visão das consequências sociais, educacionais e culturais do nosso povo. Nasci e fui criada numa família de classe média em Salvador, frequentei tanto a igreja católica como o candomblé. Minha forte ancestralidade negra, indígena e portuguesa está contida no meu ser. Minha avó paterna era Yalorixá, filha de Xangô, meu avô materno era um caboclo descendente de indígenas e portugueses. Sou uma baiana nata”, reforça Luzimar.
A também baiana, artista visual e profissional de saúde Lívia Passos, comenta sobre a relevância de participar da exposição e sobre o desafio de expor fora da Bahia. Para ela, ao mesmo tempo que é muito relevante, é desafiador, mas traz a certeza do reconhecimento de estar seguindo o caminho certo. “Perante o preconceito com as produções artísticas de nós, baianos, quando se trata do eixo Sul/ Sudeste, estar na maior metrópole da América Latina, uma cidade efervescente onde tudo acontece em primeiro lugar, é muito relevante e ao mesmo tempo um grande desafio. Como mulher preta, 52 anos, autodidata, chegar em São Paulo como artista visual é um reconhecimento e prova de que estou no caminho certo. Constitui uma oportunidade de mostrar minhas inquietações para que o público conheça e reflita sobre o papel da minha arte”, pontua.
Lívia, em sua poética, aborda o cuidado com o meio ambiente, as importantes relações de consumo e o descarte, assim como a expansão de suas memórias afetivas com as matriarcas, ancestralidade e desigualdades sociais. Por trás desse processo criativo, ela se descobre valorizando a boa prática.
“Descubro-me como artista quando me proponho a fazer um trabalho de conscientização quanto à coleta seletiva dentro do hospital que atuei durante 30 anos. Sempre digo que a “Arte me arrebatou”. Comecei reutilizando como suporte os resíduos, fruto dessa coleta, ressignificando e dando uso ao desuso com a intenção de valorizar cada boa prática. Assim, PVC, isopor, tampas de medicações e Eucatex ganham novas vidas e direções” acrescenta Lívia.
A exposição também conta com a participação de dois artistas paulistas, Sandra Scavassa, que realiza obras por meio de processo intuitivo, de onde surgem rostos, movimentos e cenários e Luciano Kalil, autodidata, que desde 2018 tem trabalhado com pintura em tela, expressando paisagens de forma livre.