Antes das barbearias vintage que crescem na cidade do Rio de Janeiro e Região Metropolitana e trazem cerveja, videogames e loções, a Baixada Fluminense é conhecida por ter um barbeiro em cada esquina. Fosse em Duque de Caxias, Nova Iguaçu ou Magé, o barbeiro sempre foi o confidente do homem mesmo antes do século XX, onde seu espaço de trabalho se transformava no lugar de cumplicidade e encontro perto de casa.
Não que as barbearias de hoje não façam isso. Inclusive, essa rotina de “irmandade” através do tempo é o norte desses novos empreendimentos. Os hábitos não continuam os mesmos, claro, já que antigamente eles também faziam comércio de produtos e serviços rápidos de necessidade nas comunidades – incluindo, surpreendentemente, práticas de cura dentárias! Posteriormente, com o surgimento da lâmina de barbear descartável, as barbearias antigas perderam força. Porém, o que se viu e vê na Baixada é o contrário: os espaços permanecem e não têm pressa de se modernizar. Mas como esse fenômenos ainda resistem por aqui?
As barbearias têm valor de símbolo. As lojas representam a cultura e a rotina do homem da região. Os caxienses e japerienses, entre tantos outros, levavam suas histórias, causas e acontecimentos variados, vivenciados por eles em seus dramas pessoais. Todo esse dinamismo tem significado histórico, social e cultural para essa Região Metropolitana. A magia é atravessar gerações com o mesmo objetivo de integração e refúgio.
As barbearias da Baixada também são espaços para imigrantes e refugiados. Angolanos, senegaleses e africanos de outros países aprenderam o ofício, ficaram e resistiram, misturando suas vivências. E os tutoriais, os desenhos feitos à máquina nas cabeças de vários jovens da favela, deram ainda mais força a esse fenômeno. Viraram até tema de documentário.
Vida longa aos relíquias e boa sorte aos novos profissionais!