Afinal, os atos de vandalismo pós-diplomação de Lula e Alckmin na noite brasiliense são um desafio à ordem democrática ou refletem desespero de grupos que se percebem cada dia mais sozinhos e abandonados à própria sorte? Seja qual for a resposta, uma coisa é certa: eles já entraram para a memória popular serão lembrados no futuro como momentos pelos quais passaram parentes e familiares de vizinhos e conhecidos, como lembranças de tempos conturbados do presidente da república que surtou no final do mandato e quis comandar um golpe de estado espalhando o terror.
Na década de 1970, quando a ditadura militar descia a ladeira da história forçada pelos movimentos pró-redemocratização, grupos militares e paramilitares promoveram explosões de bombas, principalmente em bancas de jornais. As bancas eram alvo preferencial porque ali vendiam-se os veículos da chamada imprensa alternativa, vanguarda daqueles movimentos.
Mas também explodiu-se uma carta-bomba na sede da OAB no Rio, que matou Lyda Monteiro, secretária do presidente dos advogados Raimundo Faoro. E em 30 de abril de 1981 outro artefato semelhante detonou no colo do sargento do exército que o armava no carro no estacionamento do Riocentro, onde ocorria o Show do Trabalhador. A partir dessa explosão ficou óbvia a participação dos militares na resistência à redemocratização, o que acelerou o processo.
Hoje não há bombas (pelo menos ainda não), mas as manifestações seguem o mesmo roteiro do terrorismo urbano das décadas passadas. É a mesma inspiração autoritária e ditatorial, a mesma covardia e o mesmo desespero. Os baderneiros de hoje são apressadamente identificados com o “black blocs” de 2013 e seu vandalismo, numa tentativa de igualar uns e outros.
São ações semelhantes, mas a imprensa não deve ficar a reboque dos investigadores oficiais, se quer de fato saber quem promove incêndios de veículos e ataques a prédios públicos na capital do país. Sempre é mais cômodo manobrar e conduzir o trabalho policial para incriminar “agitadores esquerdistas” sem fundamento ou com evidências falsas para desviar a atenção dos verdadeiros culpados.
A diferença essencial entre o que houve no final da ditadura e o que há no final do governo Jair Bolsonaro é a personificação do interessado, no caso o presidente golpista confesso que em muitas oportunidades disse o sonho que guarda no peito e que para nós, brasileiros, é o pesadelo da hora.
Eduardo Bolsonaro, seu filho, declarou na Câmara dos Deputados, ainda no início do governo do papai, que para fechar o Congresso basta um jipe com um cabo e um soldado. Se isso não é uma clara e convincente ameaça à democracia, talvez seja chegada a hora de a grande mídia investigar quem está no planejamento das ações de vandalismo nas ruas da capital para chegar aos militares contra a democracia.