Desde o seu surgimento até os dias de hoje a sociedade não consegue apreciar a existência e nem enxergar o potencial das favelas, sobretudo quem não é morador. Para isso, é preciso conhecer melhor a sua origem, entender o seu processo de desenvolvimento e compreender, a partir da perspectiva de morador(a), a persistência das favelas.
Para a compreensão da cultura favelada faz-se necessário, antes de tudo, compreender a origem do seu nome. Etimologicamente, favela é uma planta da espécie Cnidoscolus quercifolius, notada no Morro da Providência, no centro do Rio de Janeiro. Como essa vegetação era muito comum nas regiões dos morros e encostas, foi ela a responsável por denominar os espaços onde eram construídos assentamentos habitacionais com suas características típicas de construção.
O crescimento das favelas brasileiras se originou principalmente na era industrial, sobretudo nas grandes cidades como Rio de Janeiro – ex capital do país – e São Paulo, acarretando no adensamento das cidades emergentes do século XIX com a crescente migração das famílias do campo para as metrópoles, movimento também conhecido como êxodo rural, em busca de trabalho e melhores condições de vida.
Anteriores às favelas existiam os cortiços, que eram espaços insalubres nas regiões centrais da metrópole. Para evitar o crescimento dessas condições de vida, autoridades ordenaram a destruição desses espaços, desalojando milhares de famílias. Foi necessária, então, permissão para a construção em morros e encostas, já que inicialmente não existia um plano urbanístico voltado para atender ao grande volume de migrantes que chegavam às grandes cidades.
As cidades se desenvolveram ao longo do século XX e a população periférica – base e consequência desse desenvolvimento – se multiplicou dentro e fora dos limites das metrópoles. E sem planos, administração ou fiscalização das construções sem orientação profissional, ocorreu nesse período a ocupação de terrenos de propriedade alheia (pública ou particular), onde a população emergente se apropriava dessas terras para garantir o direito à moradia.
A apropriação de terras somada à construção empírica é traduzida neste ponto não como ilegalidade, mas como a arquitetura da sobrevivência, projetada e destinada pelos próprios moradores-construtores como o espaço do habitar. A ocupação desses espaços se traduz em resistências e reivindicações dos direitos à vida e à cidade. Elas são, ainda, poesias que refletem nitidamente a organização da sociedade; suas formas são resultados das disparidades socioeconômicas e socioculturais enraizadas na nossa história.