O conhecimento de sua história, sua origem, e não se limitar perante os desafios da sociedade machista, é uma das formas com a qual mulheres estão se empoderando, e ocupando todos espaços que são de direito.
” Sou mulher, sou favela e estou aqui…posso fazer o que quiser e uso minha arte como uma expressão para reforçar a representatividade feminina”.
Essa fala é de Susane de Jesus Silva, 45 anos, moradora do Bairro da Paz, Salvador- BA, artesã. Autônoma, Susane trabalha com customização de roupas e cria peças a partir de inspiração das mulheres que contribuíram e contribuem na sua formação social e política.
Susane é a idealizadora do coletivo As Pretinhas, que há cinco anos promove oficinas de artesanato e de formação social para mulheres de várias idades. Com objetivo de oferecer uma base para geração de renda, provocando essas, para o conhecimento dos seus direitos e a autovalorização, o amor próprio, são esses pontos que são considerados importantes para combater o preconceito racial e o feminicidio.
As Pretinhas não tem uma sede, com isso os encontros e atividades acontecem em locais improvisados e cedidos por parceiros, as vezes nas casas das participantes. Além do espaço físico, outra dificuldade para as mulheres é conciliar a atuação no coletivo com outras tarefas do dia a dia, sendo mães, esposas, estudantes, exercendo outras atividades profissionais, que ocupam boa parte do tempo e asim ficam ausentes por algum período de determinadas ações.
O coletivo participa de feiras, exposições, é convidado pra compartilhar sua experiência com outras mulheres e nesse sentido vai rompendo as barreiras e aumentando a rede de solidariedade feminina.
A motivação pela arte em geral, e no que se refere a confecção de vestuários vem da família, Susane destaca que suas avós e seu avô paterno sempre fizeram roupas, modelaram, e essa realidade fez parte da sua infância e adolescência, tendo na sua memória afetiva grande influência para escolher trabalhar com criação de roupas.
Depois de ter participado de alguns grupos, cooperativas e associações, Susane diz que hoje tem no coletivo As Pretinhas a sua realização como mulher empreendedora e ativista, colocando sua experiência de vida e de mobilizadora social para provocar outras mulheres a pensarem na própria autonomia como pessoa e entender seu papel na sociedade.
“Se não fosse artesã, seria dançarina, cantora ou artista plástica. De alguma forma estaria ligada a arte e faria dela meu instrumento de protesto social”.
A área de publicidade e marketing também chama a atenção de Susane, já pensou em fazer faculdade, mas devido algumas limitações pessoais não conseguiu ainda ingressar no curso superior. Mesmo assim não se sente inferior a quem já tem uma graduação. Pois pra ela o conhecimento se adquire em qualquer espaço de educação e no convívio de pessoas que estejam disponíveis pra ensinar e aprender.
“O Bairro da Paz é o lugar onde de fato me sinto em casa e não consigo me enxergar morando em outro lugar. Principalmente diante de relatos de moradores sobre outras favelas, pessoas com dificuldade de sair e chegar em alguns horários, toque de recolher, coisas que não vivo aqui. Além de outras questões que fazem do bairro ser uma escolha de sobrevivência também. Amo minha liberdade, amo minha favela”.
Susane gosta da boa comida caseira: Omelete, peixe frito, cozido. Sonha em conhecer algum país do continente africano, pra ter uma experiência real com a comunidade negra na sua origem, onde tudo começou e que a influencia diretamente.
O orgulho de Susane é perceber que pessoas que participam ou participaram de atividades junto ao coletivo conseguiram mudar a sua realidade e seu entorno. Assim ela percebe que está conseguindo contribuir com a formação das pessoas, “sementes são plantadas na vida das pessoas e não sabemos quando serão germinadas”.