Ontem, 4 de novembro, foi o primeiro domingo de ENEM 2018. Com duração de 5 horas e 30 minutos, a prova apresentou 90 questões referentes à área das Ciências Humanas e suas Tecnologias e à área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias. Além disso, essa primeira fase foi dia de Redação, quesito tão importante para os vestibulandos que desejam ingressar em uma universidade pública no próximo ano. Apesar de todo o desafio enfrentado pelos alunos, é preciso também levar a atenção para outro aspecto: as questões dialogaram com –e denunciaram- a realidade brasileira.
A educação não está alheia aos recentes acontecimentos do país. Na verdade, nota-se que grandes ataques se dirigem a ela. Neste ano, foram várias as fake news direcionadas às salas de aula brasileiras: desde a existência do “kit gay” até a ocorrência de doutrinação ideológica, houve (e ainda há) uma forte tentativa de silenciar a construção de um pensamento crítico nas escolas. Ideais como a defesa dos direitos humanos e a expressão da diversidade cultural e de gênero são atacados pelo avanço do conservadorismo registrado no país. Para agravar o quadro, a eleição de defensores dessas práticas para o Poder Executivo nacional e estadual revela uma situação preocupante e de vulnerabilidade para o prosseguimento de uma educação libertadora.
Entretanto, apesar de todo o pessimismo da conjuntura política, o setor da educação mostra sua resistência e sua importância tanto para a formação dos jovens, quanto para a expressão da democracia no Brasil. Questões banalizadas por líderes do Congresso foram representadas em textos, assim como exibidos autores importantíssimos para a cultura brasileira e para a defesa do direito civil igualitário.
Em Ciências Humanas, uma questão abordou o movimento pela igualdade civil, representado por líderes como Martin Luther King e Rosa Parks nos Estados Unidos. Outra, tratou da Lei da Anistia e da repressão na ditadura militar, que determinou o exílio de personalidades políticas. Houve ainda reflexões sobre a importância do voto e da democracia para a sociedade contemporânea.
Em Linguagens, muitas questões abordaram o tema do preconceito no país. A estética do racismo em produtos de beleza foi tema de um dos textos da prova. O machismo e seu impacto na sociedade também foram trabalhados a partir de contextos históricos que afirmavam a “fragilidade feminina”, e de anúncios contra a violência à mulher. Além desses, outro texto que dialogava diretamente com a atualidade expôs a importância dos direitos humanos e sua relação com a educação básica. “Os direitos humanos devem ser o alicerce para todo o progresso”, dizia o discurso da diretora-geral da Unesco.
Em tempos de relativização dos direitos humanos, da educação pública, do papel dos professores como profissionais éticos, e das ameaças à diversidade social e cultural, essa edição do ENEM mostra que a educação não se mantém calada. Ela continua formando cidadãos, defendendo seus princípios e lutando por um país mais justo e democrático.
A educação resiste. Que ela seja o guia para os próximos anos e que ela nunca seja calada pelas vozes daqueles que gritam. Porque, como dito por Malala Yousafzay, “uma criança, um professor, uma caneta e um livro podem mudar o mundo”. Nós sabemos disso. E eles também.