Já a algum tempo eu buscava falar sobre ascensão por aqui, queria pesquisar mais e trazer referências múltiplas, para que o discurso não partisse de um olhar unilateral das coisas. Tenho buscado evitar respostas rígidas para as discussões, mas confesso que essa não é uma tarefa fácil.
Dito isso, eu não podia arrastar o tema para mais tarde. Nós precisamos falar de ascensão e gostaria que antes que você role adiante nesse texto, se atentasse para o relato abaixo.
“10 meses morando na Tijuca – a parte que não é Borel, não é o morro da formiga, não é o Salgueiro – e o motivo, nem de longe é a ascensão.
E todo dia eu vejo o quão urgente é ocuparmos os espaços, mas acima de tudo nos prepararmos psicologicamente pra essa ascensão. Pra gente não pirar, quando chegar no topo que tanto desejamos.
A mudança de território, para um lugar um pouco mais distante do “fuzil visível 24h na tua janela” pode ser tão violento quanto.
Todo dia é um racismo velado, um moralismo escancarado, o olhar de superioridade nos dizendo que ali não é nosso espaço. Sendo vista como a babá ou empregada que entra na escola particular – Porque né, só pode ser! A doméstica na fila do mercado (Mesmo que essas sejam profissões dignas, mas não é o único espaço que podemos ocupar). A que ao pegar o Uber, está subindo o morro pra pegar drogas. A que escuta no prédio onde mora, do vizinho que nunca te deu bom dia: “Qual seu apartamento? Preciso saber pra minha segurança.
Seguimos resistindo pelo propósito de elevação coletiva e riqueza saudável, mas que é fácil, gostoso e suave… nem de longe é verdade. Resistimos e por isso não admitimos que você ouse dizer que é vitimismo. Você já leu no dicionário o que vitimismo significa?
A gente percorre cada caminho, deixando pedaços de nós na estrada e vocês tem a petulância de dizer isso?
Ainda há os nosso que digam: “Então a favela não é mais seu lugar de fala”.
A gente deveria se envergonhar dos discursos rasos.
Deveríamos ter vergonha de participar dessa corja, mesmo que disfarçados! Eu quero ver estar aqui e fazer no meu lugar, e no lugar de quem não desiste. Porque insistimos e resistimos e não é apenas pelo individual.”
Todas as vezes que ouvi falar de ascensão, ela estava ligada diretamente com ganhar muito dinheiro, morar na Zona Sul carioca, ter um carro incrível e realizar todos os desejos que lhe fosse permitido. Mas será que estamos preparadxs para alcançar esse lugar que tanto almejamos?
Por vezes a ascensão já se trata de comida no prato e um teto sobre a cabeça, mas nós sabemos que queremos mais e que o protagonismo que buscamos não ser apenas em prol coletivo.
E como fazemos pra chegar lá, vivos e com a mente e corpo saudável?
Tássia Reis diz em sua melodia:
“QUER SABER O QUE ME INCOMODA, SINCERO | É VER QUE PRA NOIZ A CHANCE NUNCA SAI DO ZERO | QUE SE EU ME DESTACAR É PURA SORTE JÃO | SE EU FUGIR DA POBREZA | EU NÃO ESCAPO DA DEPRESSÃO |UM QUADRO TRISTE E REALISTA”
É urgente que possamos nos atentar e entender que NÓS somos nosso MAIOR projeto e se assim não for, chegar do outro lado da barricada vivos não passará de um desejo profundo, sem chance de se realizar!
E mesmo que seja um grande avanço, protagonizar um comercial de família inteiramente negra e de uma grande marca, é como dona da empresa que eu desejo estar. O que estamos fazendo pra chegar lá e permanecermos saudáveis, principalmente durante o caminho?