Por Patrick Granja
Nos últimos anos, muito se falou sobre as ‘milícias’ que dominam as mais pobres regiões do Rio de Janeiro. No dia 12 de agosto, a juíza Patrícia Acioli foi assassinada com doze tiros na porta de casa, em Niterói, na Região Metropolitana do Rio. Ela estava em uma lista de doze pessoas marcadas para morrer. O documento foi encontrado com Wanderson da Silva Tavares, o Gordinho, acusado de ser chefe de uma milícia em São Gonçalo, preso em janeiro deste ano em Guarapari, no Espírito Santo. Nos últimos dois anos, a magistrada puniu mais de 60 policiais e ex-policiais por envolvimento com grupos de extermínio paramilitares somente na região de São Gonçalo e Niterói.
A magistrada sabia que estava com a sua vida ameaçada e, mesmo assim, o presidente do Tribunal de Justiça do Rio, Manoel Alberto Rebêlo dos Santos foi à TV dizer que a juíza havia negado a escolta supostamente oferecida pelo Estado. Nos dias seguintes, documentos provaram que isso não passou de um lero-lero do TJ para esquivar-se da culpa. O que pouco se discute é justamente o empenho do Estado em abrandar tanto a sua responsabilidade quanto a das milícias. O que se sabe é que esses grupos paramilitares são uma importante engrenagem da política de repressão ao povo levada a cabo por esse Estado reacionário. Compostos por PMs, ex-PMs, bombeiros, agentes penitenciários e soldados das forças armadas, e protegidos por deputados, secretários e vereadores, esses grupos praticam todo tipo de crimes nas regiões que dominam: cartel na venda de gás, venda de sinal de TV a cabo, extorsão de comerciantes, moradores de favelas e motoristas de vans e por aí vai. Execuções e espancamentos são as penas para quem não se adaptar ao estado de exceção.
Nos campos de concentração construídos na zona oeste do Rio pelo programa Minha Casa, Minha Vida, dezenas de milhares de trabalhadores pobres estão sendo despejados depois de terem suas casas atropeladas pelos tratores da prefeitura no rastro da Copa e das Olimpíadas no Brasil. Todas essas Cohabs — isoladas de tudo e de todos — são dominadas por grupos paramilitares. Tudo consentido pelo Estado, visto que, desde a entrega das chaves do primeiro apartamento, a milícia já empregava sua política de extermínio na região.
Apesar da prisão de alguns parlamentares que agiam em favor das ‘milícias’, a ação desses grupos cresceu assustadoramente nos últimos anos. O assassinato da juíza Patrícia foi um recado não só das milícias, mas do Estado, alertando o que acontecerá com quem intervir em sua política de opressão ao povo.
É uma ilusão esperar punição para os verdadeiros mandantes desse bárbaro crime. Afinal os membros desse Estado não pretendem atacar nem punir a si próprios. Depois de muita cena, pretendem que tudo volte a ser como antes, que tudo caia no esquecimento, a não ser, é claro, o recado dos 21 tiros.