Quando fui convidado pelo André Fernandes para escrever uma coluna semanal, há cerca de quatro anos, recebi o convite com surpresa. Afinal, qual legitimidade teria para ser VOZ DA FAVELA? Nunca morei numa favela ou periferia. Porém, foi numa favela que vivi um fato que mudou minha vida pra sempre: foi na favela que fui baleado, preso e condenado injustamente a 12 anos de prisão, dos quais fiquei encarcerado por 8 anos, 6 meses e 26 dias. Um dia que mudaria pra sempre a minha vida.
Na cadeia descobri o quanto as vidas pretas e faveladas são vítimas dessa política de extermínio e exclusão.
Mas, quando comecei a escrever a coluna, a proposta inicial era que eu focasse mais nas questões culturais e falasse da grande potência cultural que reside em todas as favelas do país. Como agitador cultural que sou, escreveria sobre música, dança, teatro e outras linguagens artísticas. E, no começo, foi até assim. Porém, com a escalada da violência policial e de Estado, principalmente nas periferias e favelas do Rio de Janeiro, não tive como deixar de abordar esse tema.
Casos como o do Amarildo, Cláudia, DG, Rafael Braga e tantos outros que ficaram famosos nos últimos cinco anos, sempre aconteceram todos os dias nas favelas de todo Brasil. Essa política de extermínio ao povo preto, pobre e favelado não tem nada de novo.
O que é novo é a defesa de setores da sociedade civil, como certas associações e alguns líderes comunitários e religiosos. Como se não bastasse a matança do povo preto, agora somos vítimas de uma perseguição religiosa num conluio entre pastores inescrupulosos, traficantes e milicianos jamais vistos antes.
O estado do Rio de Janeiro está sendo governado por um juiz que já mostrou todo seu desprezo e ódio à vida do povo preto. Foram quase mil assassinatos cometidos pela polícia de Witzel só nesse ano e seu secretário de segurança declarou esta semana que mais mortes vão ocorrer. Até quando?