A Audiência Pública realizada na última quinta-feira (22) e transmitida ao vivo pelo Canal da Câmara Municipal do Recife, serviu como marco na luta pelo direito à moradia vivenciada pela Comunidade Sítio Santa Francisca, conhecida como Comunidade da Linha, no bairro do Ibura, zona sul do Recife.
A ordem de despejo expira para essa comunidade no dia 4 de maio, o que aumenta a tensão na território, visto que mais de 200 famílias, totalizando cerca de 800 pessoas, temem perder suas casas em meio à crise sanitária que o mundo vivencia com a pandemia do coronavírus.
O objetivo da ocasião seria traçar metas de enfrentamento ao despejo e encaminhar assistência às famílias devido ao drama pelo qual estão passando, buscando soluções para proteger as famílias, que vivem em pleno exercício da cidadania e consomem diversos serviços públicos, como energia elétrica e abastecimento de água, residindo na localidade há quase trinta anos.
Para isso, a Câmara de Vereadores do Recife encaminhou documento formal convocando a Prefeitura do Recife, na pessoa de João Campos, e o Governo de Pernambuco, na pessoa de Paulo Câmara.
Vale salientar que ambos não compareceram à Audiência Pública a qual foram convocados.
Presentes na audiência
Compareceram na Audiência Pública, funcionários públicos representando as esferas municipal e estadual, mas sem a autonomia do Poder Executivo.
A vereadora Dani Portela e o vereador Ivan Moraes, responsáveis pelo chamamento da Audiência, e a codeputada estadual Jô Cavalcanti.
Dr. André Carneiro Leão (Defensoria Pública da União), Felipe Araújo (Ministério Público de Pernambuco).
A moradora e liderança da comunidade Dona Terezinha Francisca, o morador Denilson Lopes, o arquiteto e urbanista da Cooperativa Arquitetura, Urbanismo e Sociedade (CAUS) Bruno Fonseca, o arquiteto e urbanista Luan Melo (Centro Popular de Direitos Humanos – CPDH e CAUS),
O Chefe do Gabinete de Projetos Especiais da Prefeitura do Recife Otávio Calumby, representante da Secretaria de Habitação de Pernambuco, Carolina Siqueira e Renan Castro (Ordem dos Advogados do Brasil – OAB).
Pesquisa Social
Durante o mês de março foi realizada uma Pesquisa Social na Comunidade Sítio Santa Francisca, visando a captação de dados concretos de caráter quantitativo acerca das famílias residentes na localidade ameaçada pela ordem de despejo.
Os moradores do território voluntariaram-se para colher as entrevistas e auxiliar o processo de pesquisa.
Os dados obtidos a partir da Pesquisa foram apresentados na Audiência Pública.
Segundo dados coletados na Pesquisa Social, a área diretamente afetada em caso de cumprimento da ordem de despejo contém 267 edificações, sendo 250 residências.
Os pesquisadores limitaram-se à área que compreende 21 metros de distância da linha do trem de ambos os lados para determinar a área de incidência.
A Pesquisa Social no local selecionado apresentou um total de 734 vidas residentes na área ameaçada pelo Governo Federal e Transnordestina.
Das 734 pessoas, 54 são crianças na primeiríssima infância (0-3 anos), 46 são crianças na primeira infância (3-6 anos), 72 crianças, 137 adolescentes, 140 jovens, 251 adultos e 34 idosos.
Os dados também revelaram que 66,5% das residências ameaçadas de remoção são chefiadas por mulheres, das quais 70,1% são mães solo, sendo mais de 80% destas autodeclaradas pretas ou pardas.
A Pesquisa Social foi possível a partir do trabalho coletivo entre o Centro Popular de Direitos Humanos, a Cooperativa Arquitetura, Urbanismo e Sociedade (CAUS), os mandatos dos vereadores Dani Portela e Ivan Moraes, a Campanha Despejo Zero, o Movimento das Trabalhadoras e Trabalhadores Sem Teto (MTST) e os moradores da Comunidade Sítio Santa Francisca.
Bruno Fonseca, Urbanista Popular e Pesquisador Social na Cooperativa Arquitetura, Urbanismo e Sociedade (CAUS) conta que “a estratégia utilizada pela Pesquisa Social é de sensibilizar e comover os juízes e a opinião pública em relação à situação vivida pela Comunidade Sítio Santa Francisca, e que por isso vai no sentido contrário às intenções da Transnordestina”.
O Pesquisador Social também alerta sobre os impactos que uma ação de despejo realizada sem consulta pública pode trazer de danos para a população. “É preciso negritar os reais impactos sociais deste absurdo perante a opinião pública, e que os resultados da pesquisa constem nos processos judiciais, negritando a verdadeira realidade vivida por centenas de famílias da comunidade”, enfatiza Bruno Fonseca.
Bruno relata sobre as dificuldades de realizar a pesquisa em meio a pandemia. “Levamos em consideração desde o início que nós, que estávamos entrevistando mais de 270 famílias, seríamos um potencial transmissor do coronavírus. E por isso, tratamos com seriedade as medidas sanitárias recomendadas”.
O Urbanista Popular ressalta que “o banco de dados em posse da comunidade pode ser utilizado para muitos fins, inclusive reivindicatórios, como exigir das autoridades ações que se adequem à real demanda necessária da população, como por exemplo, cobrança por creches, já que o número de crianças na comunidade pode vir a ser maior que o número de vagas disponibilizadas pelo poder público”.
“Uma Pesquisa Social é de suma importância, seja como a realizada na Comunidade Sítio Santa Francisca quanto em outros territórios que passam por situações de conflito”, destaca Bruno Fonseca.
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