[reportagem para o jornal A Voz da Favela de outubro de 2019]
Quem anda de metrô no Recife sequer imagina que esse transporte, que conecta cidades como Jaboatão, Camaragibe e Cabo foi planejado para atender parte da Região Metropolitana ao centro. Com uma malha ferroviária de 70 km e um fluxo de atendimento de 400 mil pessoas por dia, o metrô é um corredor fundamental para o transporte público da Grande Recife. Entretanto, o tamanho de sua importância parece não estar sendo considerada. Enquanto isso, os reajustes das passagens causam impacto na vida da população.
Para a servidora pública Juliane Rodrigues, que utiliza o metrô todos os dias, o serviço tem sido de má qualidade. “Os problemas com o metrô são cotidianos. Quem, como eu, utiliza diariamente, convive com atrasos e superlotação’’, reclama. De acordo com ela, o metrô é fundamental para a mobilidade na cidade, mas vem passando por sérios problemas que prejudicam o serviço. “Considerando o trânsito do Recife e RMR nos horários de pico, o metrô é o meio de transporte público mais rápido, porém, vem sendo gradativamente sucateado, resultando em péssimas condições para os usuários’’, avalia.
Atualmente, o metrô, que já foi considerado um dos mais limpos do Brasil, se encontra em estado caótico. E de quem é a responsabilidade? De administração federal, o metrô está sob o comando da CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos), uma empresa pública vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Regional. A CBTU vem sofrendo com uma série de cortes no orçamento e alega não receber do Governo Federal repasse suficiente para manter o sistema funcionando em plenas condições. Por sua vez, o governo, após sucessivos cortes, parece querer resolver o problema do transporte por meio da privatização.
Enquanto isso, o sistema metroviário continua caótico e a passagem subindo. Em agosto passado, a passagem aumentou para R$ 3,00 (o valor anterior era R$ 2,60, representando um reajuste de 15%)*. A medida faz parte de um plano de aumento progressivo no valor da tarifa, em vigor desde maio deste ano, e chegará a R$ 4,00 em março de 2020. O aumento não vem acompanhado de uma melhoria no serviço e é mais um golpe no bolso da população, que já sofre com a precariedade do sistema.
No cenário atual, com a economia em crise e milhares de desempregados, o aumento tem impacto direto no bolso dos trabalhadores e trabalhadoras que moram em áreas periféricas do Recife e RMR. Pagar R$ 8,00 de passagem de ida e volta significa deixar de fazer muitas coisas, além de restringir o direito de ir e vir das pessoas. Um valor que poderia ser gasto no mercadinho ou na padaria do bairro.
*Atualização em 04/11/2019: Em novembro, a tarifa foi para R$ 3,40.