Ora Bolsonaro está sumido; ora surge no cercadinho à entrada do Palácio da Alvorada para advertir os fiéis seguidores que “o momento oportuno” pode estar chegando. Há algo de messiânico nas suas palavras, embora ele negue ser o Messias dos milagres, o enviado de Deus. É claro que sua advertência se refere ao golpe de estado que ainda pretende dentro da sua cabeça, e na de pessoas graduadas ao seu lado, como os generais Braga Neto e Augusto Heleno. e talvez o Villas-Boas que ajudou a derrubar Dilma e está em cadeira de rodas padecendo de uma doença degenerativa. Não fossem os generosos recursos da assistência militar, com certeza já não estaria entre nós. Por muito menos, uma “gripezinha”, 691 mil brasileiros partiram na barca da Covid-19.
Mas voltando ao errático Bolsonaro, suas atitudes antes tão previsíveis hoje surpreendem os incautos ora pelo inusitado, ora pelo óbvio. Por exemplo, quando se escondeu por quase 40 dias sem dar as caras em lugar algum, cumpriu um ritual misterioso ao qual a nação não teve acesso. Um e outro privilegiado que o visitaram o acharam alheio e deprimido, talvez pensativo, desenhando croquis em papel A4 de locais onde instalar explosivos. Na realidade, antigos planos de fazer voar pelos ares equipamentos e instalações civis e militares traçados na década de 1980, quando teve de dar baixa e se recolher à reserva remunerada. Os militares recompensam aqueles cuja mente adoecem e estragam com tenebrosos pensamentos e doutrinas exógenas.
O curioso nisto tudo é a volta que o mundo deu, pondo o insubordinado Bolsonaro no palácio presidencial, com o apoio dos próprios fardados que o conheciam há muito mais tempo do que nós. Pode ser que acreditassem que havia amadurecido na vida política, mas nós que ouvíamos seu discurso misógino-machista e sua defesa da tortura e da morte, do suplício e do desaparecimento, sabíamos muito bem de que tipo de gente se tratava e quando ele despontou empolgando a plateia com armas falsas e ameaças verdadeiras sentimos que o pior estava por vir.
Pois o pior parece bater à porta neste momento, e os militares que o pariram lá atrás e o embalam desde então não podem fugir à responsabilidade histórica de barrar suas intenções, já que Bolsonaro acredita piamente que as forças armadas ainda estão na década de 1960, prontas para o golpe contra a democracia no qual se habilitaram perante o mundo. Os militares de hoje sabem que a solução pela força e pelas armas não é mais solução, mas um complicador na geopolítica que se desenha no mundo. Felizmente no cenário atual não há espaço para Bolsonaro, como não houve para nova aventura de Donald Trump há dois anos. Sonhos autoritários não passam de pesadelos na mente destas pessoas alienadas do processo pelo qual passam. É uma pena, mas por outro lado é um conforto saber que suas ideias não vingarão enquanto houver democracia e gente disposta a lutar por ela.