A cineasta Ana do Carmo, de 25 anos e a produtora-executiva Rubian Melo, 26 anos, participam até o dia 27 de maio, da programação da Marché du Film, um evento fundamental do Festival de Cannes realizado desde 1959, que este ano chega a sua 76ª edição. Elas são sócias da Saturnema Filmes, uma produtora audiovisual baiana.
A Marché du Film é reconhecida como uma plataforma para negócios, compra e venda de produções, bem como para a apresentação de projetos no mercado cinematográfico.
Rubian Melo, destaca a importância dessa oportunidade para a produção brasileira. “Participar da Marché du Film em Cannes é extremamente relevante para a Saturnema Filmes, pois nos permite apresentar nossos projetos originais no mercado cinematográfico mais importante do mundo. Estamos animadas em reencontrar profissionais que conhecemos em laboratórios, festivais e workshops online anteriores, fortalecendo nossas conexões e expandindo nossas produções”, explica a produtora.
Essa é a segunda vez que a Saturnema Filmes participa da Marché du Film do Festival de Cannes. A outra participação aconteceu em 2021, com um dos projetos das baianas inserido no catálogo do Cinema do Brasil, o que levou a participação no evento em Cannes.
“Minha jornada em Cannes teve início em 2018, quando co-dirigi, juntamente com Cláudia Sater, o curta-metragem ‘Frutos da Lua’, que fez parte do catálogo Short Film Corner do festival e nos proporcionou a oportunidade de comparecer ao evento presencialmente naquele ano. Em 2021, nosso projeto em desenvolvimento ‘Sol a Pino’, meu primeiro longa-metragem como diretora, foi incluído no catálogo do Cinema do Brasil e, por meio do Nordeste Lab, participamos da versão online da Marché du Film”, acrescenta Ana do Carmo.
“Este ano, fomos honrosamente convidadas pela Embaixada Francesa do Brasil a participar presencialmente da Marché du Film. Estar aqui novamente, em um momento tão próspero para nossa produtora, com projetos mais amadurecidos e ambiciosos, é uma verdadeira alegria. Trazer a energia da Bahia para Cannes e compartilhar essa experiência ao lado de diversos produtores e criadores brasileiros, especialmente os negros e negras, é algo muito significativo”, ressalta Ana do Carmo.
Enquanto mulheres, pretas, nordestinas, em um meio predominante masculino, pessoas brancas, e de elite, a presença de Ana e Rubian reforça a importância das mulheres nesses espaços e reafirma que as mulheres e pessoas negras podem estar onde quiser.
“Atuar na produção audiovisual é um sonho desafiador, pois além de enfrentar um mercado majoritariamente masculino, temos também recorte de raça, classe e regionalidade. E todos os desdobramentos dessas interseccionalidades que nos atravessam, fazem a gente questionar durante boa parte da vida se é possível cogitar cinema como profissão. Produzir é um trabalho que movimenta bastante a cadeia criativa e também de base, conseguimos impactar e gerar muitos empregos”, ressalta Rubian
Para Ana do Carmo, “também precisamos falar de equidade salarial, políticas públicas, sistema de cotas, ampliação de oportunidades, mas precisamos nos tornar gerenciadores do dinheiro em jogo, ter poder de decisão e liberdade de contratar os nossos. Motivos pra desistir não faltaram, mas desistir nunca foi parte do planejamento, sobretudo porque não estamos sozinhos nessa caminhada. Se chegamos aqui, é porque outras pessoas vieram antes da gente. Agora estamos aqui para ajudar a preparar terreno para os próximos”.
Durante a Marché du Film, a Saturnema Filmes apresentará seus projetos em desenvolvimento, entre eles os longas-metragens “Sol a Pino”, dirigido e roteirizado por Ana do Carmo, e “Tragam-me a Cabeça de Orum Bomani”, dirigido pelo cineasta baiano Ariel L. Ferreira.
A Saturnema Filmes, que iniciou sua atuação em 2016, já acumula mais de 30 prêmios nacionais e internacionais, consolidando-se como um importante nome no cenário audiovisual.
Por Jadson Nascimento
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