Por Joyce Enzler

Conhecido por ser um bairro com muitas favelas e poucas oportunidades, enfim Catumbi, que significa em Tupi rio com muita caça em volta, conquistou seu espaço cultural há tanto tempo reivindicado pelos moradores e militantes deste bairro histórico, considerado um dos mais antigos da cidade do Rio de Janeiro. Com um dia inteiro de comemorações, organizado pelo grupo afro Orunmila, o local foi inaugurado em agosto com a participação de DJs, artistas do bairro, lideranças comunitárias. Fomos lá e ouvimos algumas pessoas do bairro onde morou o artista plástico Debret, que veio para o Brasil com a Missão Artística Francesa, em 1816. Também entrevistamos o presidente do Orunmila, Paulo Cesar Xavier, grupo nascido no Morro da Mineira.

Paulo Cesar Xavier – presidente do grupo afro Orunmila

Quando, onde e como começou o Orunmila?

Orunmila começou depois de uma reunião realizada por seus fundadores – eu, meu irmão Carlinhos, Mara, Edna, Mongol e Chuchu da Bahia -, aqui em casa, no Catumbi, depois do despontamento por nossa participação no Grupo Alaafin Ayê. Depois de uma viagem a Salvador e uma conversa com Vovô do Ile Ayê, que sugeriu o nome Orunmila. Então a reunião para fundação se deu em 21 de junho de 1989.

Qual a relação do bloco com o bairro do Catumbi?

Sempre nos orgulhamos do nosso bairro e não poderíamos desatrelar nosso trabalho cultural dele. Se bem que o Orunmila apareceu para o Rio de Janeiro no bairro da Abolição, onde aconteceram os primeiros ensaios para o público.

O que significa Orunmila?

Orunmila é um orixá. É o orixá que criou o jogo dos búzios, ou ifá. Este orixá, sentindo a necessidade de ajudar os outros orixás em suas decisões, criou o jogo dos búzios para que eles consultassem e assim obtivessem a orientação certa. Orunmila é chamado de senhor do Universo.

O Orunmila pertence à FEBARJ? Como funciona esta federação? Onde ela funciona?

A FEBARJ é a Federação dos Blocos Afro e Afoxés do Estado do Rio de Janeiro da qual o Orunmila é filiado. Ela congrega outros quatorze blocos e afoxés e procura buscar condições de sustentabilidade para seus filiados, porém com grande sacrifício devido à marginalidade cultural a que foi colocada há dezesseis anos, justamente com o governo municipal passado. Funciona na lapa, Avenida Mem de Sá, 37.

Qual a importância deste espaço cultural novo no Catumbi? Um bairro com a tradição de ter abrigado o bloco Bafo da Onça em uma época de ouro para os blocos?

Nossa intenção é transformar aquele espaço num autêntico Centro Cultural com todas as modalidades de projetos, socioculturais e esportivos. Além de um local também direcionado para o entretenimento das nossas comunidades adjacentes e, porque não, dos adeptos das nossas culturas Afro, Hip Hop, Black Music…

O Orunmila costuma desfilar no carnaval?

Sim. Retomamos os desfiles no ano passado, na Avenida Rio Branco e na Lapa. Nossos ensaios são na FEBARJ às terças e quintas a partir das 20h 30min e na sexta-feira às 22h30min.

Como este espaço cultural vai funcionar? Quem irá administrá-lo?

Irá funcionar a partir de políticas de projetos que tragam uma autosustentabilidade do grupo para continuamente executar suas atividades socioculturais e esportivas. A administração será responsabilidade da equipe do Orunmila.

Manoelita Santos Silva, há 70 anos no Catumbi

“Muito bom ter este espaço cultural no Catumbi, o que precisar de mim, eu ajudarei. Há muitos anos conheço o grupo Orunmila, o primeiro ensaio foi na minha casa. É muito importante este espaço porque aqui no Catumbi não tem nada”.

Edgard Sant’ Anna, o Dodô, há 61 anos no Catumbi

“Bom ter este espaço cultural porque acabou com o movimento de prostituição, mendigos e ganhamos um local de lazer e Cultura”.

Ricardo Castro Barros, Kado, presidente da Associação de Moradores do Morro do Catumbi, mais conhecido como Morro da Mineira

“Este espaço é uma conquista da comunidade. É isto que esperamos do poder constituído, dos órgãos governamentais. É mais uma prova de que o morro não tem só bandido, há pessoas que conhecem a Cultura e só precisam de oportunidades. Elas não querem que o governo só entre lá através da polícia, mas com projetos sociais, com formação profissional. O adolescente está ocioso, precisa de emprego, mas também de lazer. Queremos que lá fora nos olhem com outros olhos, não nos marginalizem. Hoje em dia, estamos trabalhando em conjunto, as favelas da Mineira, Zinco, São Carlos, Querosene e a Associação do Bairro do Catumbi e as coisas já começam a mudar”.