A tentativa de paralisação dos entregadores de aplicativos não conseguiu repetir neste sábado, 25, o êxito das mobilizações anteriores, em especial a do dia 1º deste mês que reuniu milhares de motoboys em diversas capitais brasileiras. Com baixa adesão, os poucos que se concentraram até a hora do almoço nas entradas de shoppings desistiram e no meio da tarde as entregas já estavam praticamente normalizadas nas praças de alimentação.
No Rio de Janeiro, os motoboys fizeram concentrações pela manhã, mas depois do almoço eles se desmobilizaram, segundo relatos de participantes locais.
Em São Paulo, os manifestantes não somavam 100 motoboys na concentração final, marcada para a Praça Charles Muller, em frente ao Estádio Paulo Machado de Carvalho, o Pacaembu, por volta das três horas da tarde.
No final do dia, os motoboys confessavam frustração com o movimento nos grupos de WhatsApp. Para eles, após surgir com uma pauta forte, destinada a garantir melhor remuneração e melhores condições de trabalho, o movimento rachou entre grupos distintos. Uma parte com ambições políticas e a outra parte alinhada aos sindicais, que defendem o reconhecimento de vínculo empregatício dos entregadores com os aplicativos, o que não é consenso entre eles, já que a maioria presta serviços para mais um de aplicativo.
“O pessoal deturpou muito o movimento, colocando política e sindicato no meio. E (com isso) muito gente pulou fora da causa”, disse Gustavo Mourão, que lidera a mobilização em Campinas.
A movimentação começou nas principais cidades por volta da 9 horas. Algumas centenas de motoboys se reuniram em frente aos shoppings mais centrais com o objetivo de evitar que os demais entregadores atendessem os pedidos dos restaurantes instalados nas praças de alimentação.
Em São Paulo, 12 motoboys se reuniram em frente ao Shopping Morumbi e outra dezena ficou na entrada do Shopping Center Norte, onde os entregadores costumam esperar pelos chamados. Eles evitavam que os outros trabalhadores atendessem aos pedidos até por volta das 15 horas. Na avenida Paulista, que abriga três shoppings de grande porte, o número de carros de polícia em frente aos centros de compra era superior ao de entregadores.
“A manifestação está fraca, tem pouca gente”, comentou o líder do movimento na capital, Diógenes Souza.
No twitter a hashtag “BrequedosApps” ficou em primeiro lugar nos trending topics do Brasil durante toda a manhã e tarde de hoje, nela as pessoas alertavam umas às outras a não pedir comida pelos aplicativos e apoiar a luta dos entregadores. Em São Paulo, o porta-voz do movimento Entregadores Antifascistas, Paulo Lima, o Galo de Luta, como é conhecido no twitter disse:
“A importância dessa mobilização pra mim vai no sentido de conquistar o coração de todos os companheiros, para os trabalhadores voltarem a se enxergar como trabalhadores. A gente não é empreendedor, somos força de trabalho e nisso o trabalhador precisa se unir e ir pra luta pelos nossos direitos, e quais são? A CLT. Eu não abro mão de nenhuma luta dos trabalhadores a começar pela liberdade. Os ‘cara’ fala assim: ‘o entregador antifascista tá lutando pela carteira de trabalho que Getúlio Vargas criou?’. A minha resposta é simples, falar que o Getúlio Vargas deu a carteira de trabalho pra gente é a mesma coisa que falar que a princesa Isabel deu a nossa liberdade. Nem um deu a carteira de trabalho e nem a outra deu a liberdade. É o punho cerrado na rua que faz a caneta tremer”.
Em outros pontos do país, a adesão também foi baixa. Em Olinda, por exemplo, a tentativa de protesto dos entregadores de aplicativo foi impedida pela Polícia Militar, que argumentou cumprimento às medidas restritivas de distanciamento social.
“A polícia alegou estar trabalhando para evitar aglomerações, por causa da pandemia do novo coronavírus. Estão informando que devido à uma determinação do Ministério Público estão proibidas aglomerações, mas a primeira mobilização aconteceu normalmente”, disse Rodrigo Lopes, presidente da Associação dos Motofrentistas de Pernambuco (AMP).
No Acre, cerca de 100 entregadores de aplicativos paralisaram as atividades em Rio Branco e percorreram pontos da cidade com alguma paradas em locais estratégicos. “Estamos reivindicando o fim dos bloqueios indevidos, porque muitos estão sendo bloqueados por motivos fúteis ou sem motivo nenhum. Se passar um mês sem rodar, quando for de novo, é bloqueado sem motivo. Queremos o fim dos scores, porque no aplicativo tem score, quem tem score alto faz mais corridas do que quem tem score baixo, e isso não é justo, porque quem começa a fazer entregas nunca tem score alto, então não vai conseguir fazer corridas”, afirmou Shayron Yotta, entregador de aplicativo.
Os entregadores protestam contra as condições de trabalho oferecidas por aplicativos como Uber Eats, iFood, Rappi e Loggi. Eles reivindicam uma tabela mínima de cobrança pelo serviço e um reajuste do porcentual repassado aos motoboys pelas entregas.
Na sexta-feira, 24, presidentes de seis centrais sindicais divulgaram nota conjunta em apoio à manifestação dos motoboys.
Desde que os motoboys deflagraram o movimento,no dia 1º de julho, Uber Eats, Rappi e Loggi têm falado pouco, a maior parte das vezes por nota. Loggi e Rappi priorizam a comunicação via Associação Brasileira Online to Offline (ABO2O), que reúne os aplicativos, exceto Uber.
O iFood, por sua vez, critica a da ausência de uma legislação específica para o trabalho dos entregadores e também a postura de aplicativos concorrentes.