Baixada Fluminense, a periferia do estado

Certa vez, em um bate papo com um amigo do Nordeste, me foi dito “o Nordeste é a periferia do Brasil”. Atuando no Fórum Grita Baixada, um projeto que busca dar visibilidade a Baixada Fluminense, assim como fazer um debate e enfrentamento da violência, da política de segurança pública lá executada, com apoio aos familiares vítimas de violência e enfrentamento ao racismo institucional, pude ver de perto a realidade invisibilizada da Baixada Fluminense. Parafraseando o amigo acima, “a Baixada é a periferia do estado do Rio”.

A Baixada encara um índice de letalidade (mortes) muito acima da capital. Em 2018 foram 2142 casos de letalidade violenta, representando 56 mortes para cada 100 mil habitantes, enquanto a capital carioca tem índice de 29,9.

Composta por Japeri (102,9), Itaguaí (93,7), Queimados (83,7), B.Roxo (62,7), Nova Iguaçu (59,4), Duque de Caxias (55,4), Magé (49,6), Seropédica (49,5), Guapimirim (45,2), S. J. de Meriti (39,6), Mesquita (32,4) todos com índices acima da capital, apenas Nilópolis (16,0) tem índices de letalidade inferior da cidade do Rio. O aumento dos índices de homicídios dos últimos anos contrasta com a redução ocorrida na capital do estado no período pós implementação das UPPs, registrando um movimento de deslocamento da violência.

Não bastasse os expressivos números acima, o baixo êxito na taxa de investigação aparece como estímulo ao cometimento de crimes na região, tendo em vista que apenas 17% dos casos de 2017 já foram concluídos com êxito. Vale lembrar que nos últimos 10 anos a Baixada Fluminense registrou mais de 18 mil assassinatos, com o município de Queimados tendo a maior taxa do estado do Rio de Janeiro.

A atuação policial também colabora para esses números dos 2142 casos de letalidade violenta registrados em 2018, 25,5% são homicídios decorrentes de intervenção policial, aproximadamente 545 homicídios, conhecidos como autos de resistência. Esse número é 58% maior que 2017, quando tivemos 343 casos.

As chacinas também são um ponto delicado dentro do território da Baixada em razão da sua “habitualidade”. Tornou-se rotineiro a morte de grupos de pessoas, sendo que em 2005 a região registrou a maior chacina da história do estado, onde policiais a paisana executaram 29 pessoas. Já passou da hora de toda a população carioca entender que nosso problema com violência está para além do comércio varejista da capital ou dos crimes contra patrimônio das ruas do Rio, e olhar pela e para a Baixada Fluminense e sua rotina de mortes e execuções.

 

Dados: Os dados foram compilados pelo Fórum Grita Baixada, no seu projeto de Direito a Memória e Justiça Racial.

www.forumgritabaixada.org.br