Não se fala em outra coisa há alguns dias. A prisão do ex (?) bilionário Eike Batista é um show. O ambicioso empresário está em todas as manchetes dos jornalões e portais, dando conta do circo midiático que sempre circunda casos como esse. Entrevistas exclusivas, detalhes “relevantes” sobre o que o empresário comeu e bebeu em seu voo de conexão direta Nova York-Bangu 9… Nada escapou ao grande público. Nem mesmo a defesa absurda que alguns fizeram dele.
Em suas declarações a imprensa, Eike Batista tem tentado construir uma narrativa curiosa. Ele tenta se fazer de vítima de um sistema político sujo, no qual teria sido obrigado a jogar o jogo dos barões – como se o próprio não fosse também um destes barões. Chega a dar dó ver o antigo exemplo de empreendedor fazendo olhos-de-gatinho-do-Shrek para as câmeras, implorando pela piedade da opinião pública. A ladainha de humilde empresário lutando para fazer parte de um clubinho da terra de Cabrália parece ter surtido efeito. Muita gente nas ruas e redes sociais andou passando o pano na culpa do empresário, que chegou a ser considerado o homem mais rico do Brasil bem no meio da era Cabral.
O grande porém é que essas pessoas, iludidas com a farsa do empreendedor vitimista, muitas vezes são as mesmas que bradam por aí as 1001 velhas máximas de que “bandido bom é bandido morto”, “se tivesse (sic) pena de morte, o país não estava assim”, “temos que mudar as nossas leis”, “mito”. É o mesmo tipo de gente que acha que juiz é rei, que comemora chacina em presídio e que foi às ruas vestindo certas camisetas amarelas de organização suspeita para bradar contra as negociatas que acontecem nos gabinetes de Brasília.
Ora, ora, meu caro reacionário. Quem tem malvado favorito ou bandido de estimação não possui qualquer direito de reclamar de corrupção. Criminosos devem pagar pelos seus crimes conforme previsto nas leis das quais vocês são tão entusiastas. Se ficar com peninha, leve para casa um larápio que, com orgulho e flashes de revistas de fofoca, ajudou a enfiar o Estado em um poço sem fundo. Este mesmo pobre coitado foi o fiador de muitos projetos farsescos, como as Unidades de Polícia Pacificadora, causou a desgraça de muita gente e pode ter ajudado a criar uma geração inteira de criminosos negros e pobres, com quem ele agora vai dividir espaço na penitenciária – sorte de quem desses ainda estiver vivo para ver, não é mesmo?
A burguesia nos quer ver mortos, mas, de preferência, bem longe de sua vista na praia de Ipanema. A vida e o bem-estar de um bandido que veste terno italiano e usa perfume importado vale mais que qualquer coisa. Pode, inclusive, se tornar uma inspiração, grande exemplo de vida de lutador contra as intempéries do mundo, com perfil em revista de grande circulação e elegias em rede nacional.
Ser branco e bem nascido no Brasil é um crime que compensa. Sim.