Há anos as populações das favelas são vítimas de frequentes ataques e ausências. Portanto, faz-se necessário o esforço de investir em um trabalho de informação que possa alimentar nos moradores a fome de justiça social e igualdade de direitos. Em Três Carneiros Alto, favela do bairro do Ibura, zona sul recifense, esta luta se materializou em forma de bate-papo com os/as moradores/as, que puderam tirar dúvidas, apresentar questionamentos, reclamações e ampliar o leque de possibilidades de ações frente aos problemas vivenciados diariamente.
Realizado no dia 29 de agosto, o encontro contou com a presença de Jesus dos Santos, componente do Movimento Cultural das Periferias e da Rede Antirracista Quilombação; com o presidente da Associação de Moradores – local do bate-papo – Levi Costa, e diversos moradores e representantes da luta comunitária, que inclusive acontece há quase duas décadas na localidade.
O eixo da conversa girou em torno de políticas e negros e negras nos espaços de poder. As populações negras e periféricas vivenciam a realidade de encontrarem inúmeras dificuldades em alcançar posições de poder na sociedade, pois historicamente são construídas políticas públicas de segregação e “higienização” e, consequentemente, observa-se uma espécie de manutenção da pobreza, que de alguma forma impede que pobres ocupem determinados espaços nas classes mais altas da pirâmide social.
Sobre negras e negros em espaços de poder, Jesus dos Santos afirma que tal população sempre esteve presente na construção do Brasil, mas sem o devido reconhecimento. “A gente sempre esteve presente na construção desse país no ponto de vista braçal, nós somos as trabalhadoras e trabalhadores que construíram tudo que a gente pode ver, tocar e sentir. É de fundamental importância que a concretude do que produzimos através de nossos trabalhos volte para saciar as necessidades que permeiam nossa vida, tornando-a digna”, observa.
Anos de escravidão sem a devida reparação histórica refletem atualmente no encarceramento em massa da população negra e criminalização das favelas, que foram afastadas dos centros urbanos e levadas a ocupar os morros do subúrbio.
A participação popular na fiscalização dos processos de políticas públicas é importante, na visão de Jesus dos Santos. “Nós, pretos, periféricos, neste processo de controle social, de correr atrás do que é nosso, faz com que seja possível que a gente tenha outra condição. Só vai acontecer quando nós corrermos atrás. Sempre foi ‘nós por nós’ e não é agora que vai deixar de ser”, observa.