O Núcleo de Full Contact e Artes Marciais da Região do Nordeste de Amaralina (NFAM), com apoio do Núcleo de Capoeira do Nordeste de Amaralina (Nucana), realizou na manhã do último domingo (27), o “3º Batizado, Troca de Cordel e Aniversário do Grupo NFAM”, no Colégio Estadual General Dionísio Cerqueira, localizado na Rua do Futuro, Santa Cruz, Salvador-Bahia.
Dezenas de convidados participaram do evento, entre eles os mestres de capoeira Alfinete (Alex Gama), Bandido (Darcson Santos) e o professor Xodó (Talison Dias).
Também estiveram presentes: agentes de segurança pública, familiares e população em geral. Tudo ocorreu conforme planejado, mestre Bandido recebeu do mestre Alfinete a confirmação da graduação passando a usar o cordel de cor branca.
“O NFAM foi criado há quatro anos, dentre as finalidades é de promover eventos desportivos, educacionais, culturais e recreativos com participação de pessoas da comunidade e adjacências. Na atualidade a entidade desenvolve ações de resgate de crianças e adolescentes para a formação de caráter. Estamos também realizando curso de primeiros socorros. O NFAM é filiado ao Nucana. Agradeço pela presença de todos”, disse o presidente da instituição social, mestre Bandido.
Mestre Nenego, presidente do Núcleo de Capoeira do Nordeste de Amaralina (Nucana), com atividades culturais há quinze anos, no Nordeste de Amaralina. “Atualmente a entidade tem dezessete instituições de capoeira filiadas ao Núcleo, estamos desenvolvendo oficinas de instrumentos musicais, participamos da abertura do Carnaval no Circuito Mestre Bimba, e apoiamos esse evento e o curso de primeiros socorros organizados pelo NFAM”.
“Apoio às ações desenvolvidas pelo Nfam, isto porque, a capoeira agrega pessoas de todas as idades e com deficiência”, comentou a esposa do Mestre de Capoeira Bandido, Fabiana Gonçalves, 38 anos, moradora da Santa Cruz.
Mestre Ismael, Grupo de Capoeira Inclusão (GCI) localizada na Gleba C, em Camaçari-Bahia. “Nossa instituição de capoeira atua também com pessoas com deficiência, idosas e outras limitações. Esse evento é de grande iniciativa, por se tratar de inclusão de pessoas de várias entidades pertencentes a essa localidade e adjacências, assim como de outras cidades”.
Contra Mestre Vergalhão, Associação de Capoeira Mestre Bimba, “com desenvolvimento de ações desde mil novecentos e trinta e quatro, no Pelourinho, Centro Histórico de Salvador. Essa instituição de capoeira é a primeira a funcionar no mundo. Estou feliz por ter vindo pela primeira vez aqui no bairro (Santa Cruz) para prestigiar esse evento”.
“Compreendo a capoeira como um caminho iniciático para o processo de evolução do ser humano. Mestre Bimba representa o elo de uma consciência coletiva que construiu a capoeira regional.
E o fortalecimento da capoeira se dá a partir do encontro entre grupos durante evento como esse”, expressou mestre Tyko Kamaleão, da Casa Clandestina de Capoeira Mutações, fundada em mil novecentos e noventa e quatro, no bairro de Itapuã, em Salvador.
“Muito bom participar de evento como esse por proporcionar integração entre os grupos”, disparou o diretor e lutador de kickboxer Luciano Santos, 38 anos, Associação Impacto, morador da Região do Nordeste de Amaralina.
“Maravilhoso prestigiar uma roda de capoeira, por possibilitar uma convivência harmoniosa entre as pessoas, a exemplo dos capoeiristas, familiares e população em geral”, afirmou professor Piolho, Associação Cultural de Capoeira Gingado Baiano.
Jacy Santiago, 49 anos, moradora da Santa Cruz, disse que participou do evento em virtude de gostar da capoeira, “principalmente dos ensinamentos para os jovens, inclusão social e formação cidadã”.
“Um dos principais benefícios da prática da capoeira é a inclusão social”, opinou Edmilson Araújo, 43 anos, Associação Cultural Renovação, aluno iniciante na capoeira.
Mestre Mico, Escola de Capoeira Semente da Regional, localizada no bairro de Santa Cruz, funciona há cinco anos, disse “o evento propõe união dos capoeiristas dos diferentes bairros e com seus respectivos familiares”.
“Bem organizado o evento, o mesmo contribui para formar cidadãos, disciplinar e educá-los. Inclusive para participar de alguma agremiação de capoeira é exigida dos pais de alunos menores de idade a frequência escolar como um dos critérios”, falou o professor Onça Negra, Associação Cultural Mística Iúna, existe há quinze anos, com sede no Nordeste de Amaralina.
Ao som dos berimbaus todos os presentes degustaram de uma deliciosa feijoada.
Resistência: “Com a vinda dos negros (as) africanos (as) ao Brasil a partir do século XVI e submetidos ao regime escravocrata pelos senhores de engenhos, os negros (as) criaram a capoeira com finalidade de defender-se das diversas formas de violência imposta pela colônia portuguesa”, afirmam pesquisadores.
A capoeira tem como principal finalidade de derrubar o adversário, golpeando-o com as mãos, os pés ou outra parte do corpo. A ginga ao ritmo do toque dos berimbaus. É uma ferramenta de ataque e defesa do praticante da capoeira.
O Decreto nº 847, de 11 de outubro de 1890, do Código Penal Brasileiro “proibiu a prática da capoeira. A partir daí a capoeira passou a ser interpretada como arte de criminoso, e estava prevista no Código a punição com dois a seis meses de prisão para quem desobedecesse a lei”.
Especialistas afirmam, “a valorização da capoeira iniciou-se a partir da apresentação de uma roda de capoeira do Mestre Bimba (Fundador da Capoeira Regional) nos anos trinta do século passado para o então Presidente da República, Getúlio Vargas. Ao encantar-se pelo esporte, Vargas meses depois sancionou o decreto – lei nº 3.199/1941, que retirou a capoeira da clandestinidade, reconhecendo-a como esporte nacional brasileiro”.
Das conquistas: “A Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) em 2014, declarou a roda de capoeira como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade”.
Em 2008, “a Roda de Capoeira e o Ofício dos Mestres de Capoeira foram tombados como Patrimônio Imaterial da Cultura Brasileira, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN)”.
Com a aprovação da Lei nº 4.649, de 07 de agosto de 1985, foi instituído o “Dia do Capoeirista a ser comemorado no dia 03 de agosto”. A capoeira é um esporte genuinamente brasileiro e popular sendo, portanto, parte integrante da cultura afro-brasileira.
Das atribuições do estado brasileiro: a Lei nº 12.288/2010, Estatuto da Igualdade Racial, no artigo 20 dispõe que: “O poder público garantirá o registro e a proteção da capoeira, em todas as suas modalidades como bem de natureza material e de formação da identidade cultural brasileira, nos termos do artigo 216 da Constituição Federal do Brasil”.
Além disso, “O poder público buscará garantir, por meio dos atos normativos necessários, a preservação dos elementos formadores tradicionais da capoeira nas suas relações internacionais”.
O Estatuto ainda estabelece que, “O poder público fomentará pleno acesso da população negra às práticas desportivas, consolidando o esporte e o lazer como direitos sociais”. Visto que “a capoeira é reconhecida como deporto de criação nacional, nos termos”.
Dessa forma, “a atividade de capoeirista será reconhecida em todas as modalidades em que a capoeira se manifesta, seja como esporte, luta, dança ou música, sendo livre exercício em todo o território nacional”.
“É facultado o ensino da capoeira nas instituições públicas e privadas pelos capoeiristas e mestres tradicionais, pública e formalmente reconhecidos”.
Dos desafios: instituir a Casa da Capoeira na Região do Nordeste de Amaralina para a realização das práticas da capoeira no contexto cultural, educacional e esportivo.
A Casa da Capoeira tem ainda como objetivos de realizar oficinas de instrumentos musicais; e desenvolver uma cultura do turismo local, regional, nacional e internacional.
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