Na última terça-feira (19), foram revelados os nomes dos participantes da 21ª edição do Big Brother Brasil, considerado um dos mais aguardado programa da televisão brasileira.
Após o anúncio dos que ficarão confinados na casa mais vigiada do Brasil, um dos assuntos mais comentados nas redes sociais foi o maior número de negros da história do programa.
Os participantes foram divididos entre camarote e pipoca, o BBB21 conta com 20 participantes, sendo nove deles negros.
Considerando que 54% da população brasileira é negra, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a quantidade de participantes negros nessa edição do BBB não deveria gerar espanto em parte da população, mas tem servido para mostrar o quão racista podem ser os programas midiáticos.
As cantoras Karol Conka e Pocah, a influenciadora digital Camila de Lucas, o comediante Nego Di, o ator Lucas Penteado e o rapper Projota fazem parte do grupo dos conhecidos pela mídia, e estão no grupo camarote.
No grupo da pipoca estão o professor de geografia João Luiz, a psicóloga Lumena e o doutorando em economia Gilberto, completando o time de participantes pretos nessa edição.
“Eu achei que eles foram estratégicos em escolher pessoas negras, pois entenderam a união da classe em relação a representatividade, principalmente no momento de votação nas edições anteriores”, declara Vitória Viana, 23 anos, negra, estudante de jornalismo, moradora da Liberdade, periferia de Salvador.
Essa formação tem dividido opiniões entre os internautas e telespectadores, uma vez que essa edição é considerada como aquela que representa a diversidade da população brasileira, que em sua maioria é composta por negros.
“Eu acho que vai depender muito das interações na casa porque apesar de o público estar mais diversos, ainda existe um certo repúdio a união de negros, vide o BBB19 com Rodrigo, Rizia, Danrley e Gabi”, comenta Caio Batista, 22, também estudante de jornalismo e negro, morador do bairro Pau Miúdo, em Salvador. Ele tem uma visão mais crítica com relação a participação dos candidatos negros nessa edição.
Ainda falando sobre o quantitativo de negros no programa, Caio Batista diz “a verdade é que o público ainda prefere comprar a ideia do negro unitário, porque se tiver mais do que dois, foge do conceito de cota e passa a significar uma perda do protagonismo branco”.
O que muitos não sabem é que o Big Brother é um programa da emissora americana CBS, que anunciou recentemente que as futuras temporadas dos reality shows produzidos pela emissora terão pelo menos 50% dos participantes negros, indígenas ou mestiços, o que vale para as suas franquias pelo mundo também, explicou George Cheeks, presidente e diretor executivo da CBS, segundo a revista americana Entertainment Weekly.
“À medida que nos esforçamos para melhorar todos esses aspectos criativos, os compromissos anunciados hoje são os primeiros passos importantes na obtenção de novas vozes para criar conteúdo e expandir ainda mais a diversidade em nossa programação de realitys shows, bem como em nossa rede”, comenta George Cheeks.
Essa mudança veio após críticas, principalmente por parte dos internautas com relação a diversidade nos programas transmitidos e produzidos pela emissora norte americana. E no Brasil, isso também não passou despercebido, e a surpresa para muitos é o fato de que demorou 21 anos para que a composição da casa mais vigiada do Brasil representasse de fato a população brasileira. Essa edição está sendo considerada por muitos como o Black Brother Brasil.
As discussões já começaram, e nas redes é possível perceber o questionamento de muitos, principalmente por parte da branquitude, com relação ao colorismo, identidade e identificação dos participantes pretos dentro da casa. Essas mesmas pessoas insistem em definir a negritude do outro, uma vez que no Brasil, o fenótipo que você carrega é fator determinante para ser alvo de racismo.
Outra pauta questionável é com relação ao posicionamento dos participantes pretos dentro da casa, muito já se fala sobre esse comportamento, principalmente para aqueles que não têm entendimento da causa e preferem negar que pessoas pretas tenham pensamentos distintos.
“Pessoas não são apenas cores, cada negro vai se comportar de acordo aos seus princípios, vivências e bagagem como um todo! Isso é legal! Pensamentos e posicionamentos diferentes”, afirma Vitória Viana.