Bebidas açucaradas estão adoecendo as periferias

Favelas são as mais afetadas pelo consumo de bebidas açucaradas. (Jardim Elizabeth, periferia de SP, Foto: Edvaldo Barone/ ANF).

Ações privadas visam conscientizar a população em situação de vulnerabilidade social.

Não é novidade para ninguém que o consumo de ultraprocessados e bebidas açucaradas, como refrigerantes, achocolatados, chás e sucos industrializados, ocasionam diversos problemas diretos à saúde. A ingestão dessas bebidas, inclusive, é responsável pela morte de quase 13 mil pessoas anualmente.

De acordo com dados do Instituto de Educação e Ciências em Saúde (IECS), Mais de 1,8 milhão de pessoas estão doentes por causa das bebidas açucaradas. Destes, 1,3 milhão são de pessoas com diabetes tipo 2, outros 137 mil representam pessoas com doenças cardíacas, 75 mil com doenças renais, 14 mil com câncer e outras doenças.

Quando pensamos nas periferias, a situação se faz ainda mais caótica, já que em geral a informação não circula. Uma pesquisa realizada pelo Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL), revelou que a população com menor escolaridade é a que mais sofre com as doenças relacionadas ao consumo de ultraprocessados. Falando especificamente sobre diabetes, a frequência entre indivíduos com zero a 8 anos de estudo foi de 17,7%, maior do que entre pessoas com mais anos de estudo (9 a 11 anos – 6,8%; 12 anos ou mais – 5,1%).

Nathália Gonçalvez, 26 anos, moradora da comunidade do Jacarezinho, Zona Norte do Rio de Janeiro, revela não tomar refrigerantes, mas consome outros tipos de bebidas industrializadas. “Eu não tomo refrigerante, tento escolher uma opção que eu considero menos agressiva como chás gelados ou sucos prontos, só que sempre com moderação”, conta.

Mesmo que bem-intencionado, este não é um comportamento saudável. O Dr. Felix Zyngier, especialista em clínica médica e Diretor Médico do Instituto de Medicina e Cidadania (IMC), explica que para este tipo de produto, os açucares não são os únicos agravantes à saúde. “As bebidas industrializadas, contém uma quantidade muito grande de açúcar, além de corantes e diversos aditivos. Os corantes podem causar alergias e outros problemas, pois são substâncias extremamente nocivas”, pondera o médico.

Nathalia define a praticidade e os valores acessíveis, como as principais razões para o consumo dessas bebidas, declarando ainda que diminuiria o consumo, caso os preços fossem mais altos. “É muito mais fácil ir no mercado e comprar refrigerante ou algo que já venha pronto, é mais barato e acessível. Mas, particularmente, eu não consumiria essas bebidas se os preços subissem, diminuiria cada vez mais e substituiria por bebidas saudáveis”, afirma.

Questionada sobre os males que os ultraprocessados ocasionam à saúde, Nathália se diz consciente dos danos, inclusive, tendo em seu entorno pessoas com diabetes. “Eu tenho consciência que o alto consumo de bebidas açucaradas faz muito mal para a saúde, tenho parente que é diabético e vizinhos que perderam partes dos seus corpos devido a doença. Ela é silenciosa, às vezes só é notada tardiamente”, conta.

 

Doce Veneno

A Federação Internacional de Diabetes estima que até 2030, o Brasil pode ter 19,2 milhões de pessoas com diabetes, dados como este motivaram a criação da campanha ‘Doce Veneno’. Lançada pela ‘ACT Promoção da Saúde’ em parceria com a ’Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável’ a ‘Doce Veneno’ visa combater a estratégia dos fabricantes de ultraprocessados, com um forte direcionamento para a fiscalização dos produtores de bebida adoçada, já que esta é a principal fonte de açúcar na dieta da população mundial, segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

A partir de inserções em mídias digitais, canais de tevê por assinatura, rádios e painéis localizados em pontos estratégicos, como grandes centros e favelas das principais cidades do país,  a campanha convoca a sociedade para fazer parte da luta por políticas públicas em prol da melhoria da qualidade de vida.  As entidades também buscam a proibição da publicidade de alimentos destinados ao público infantil e, da venda de ultraprocessados nas escolas.

Minidoor Social da campanha Doce Veneno na Favela de Manguinhos – RJ. (Foto: André Fernandes/ANF).

Os esforços para garantir a responsabilização dos fabricantes têm surtido efeito. Foi aprovado pela Comissão de Assuntos Sociais (CAS), o projeto de Lei (PL 2.183/2019) denominado como Cide – Refrigerantes, este reforçado pela manifestação pública de 17 sociedades médicas e organizações da sociedade civil, sugere aumento em 20% da taxação sobre a comercialização e importação de refrigerantes e bebidas açucaradas. Para além de reduzir o consumo destes produtos, será possível aumentar a arrecadação de recursos para financiar programas públicos de saúde. O texto segue agora para votação na Comissão de Assuntos Econômicos.

Ainda sobre as conquistas, entrará em vigor no mês de outubro uma lei que obriga os fabricantes a inserir, em destaque, advertências relacionadas à quantidade de açúcar, sódio ou gorduras saturadas, nos rótulos dos produtos, garantindo assim uma maior veracidade de informações para o consumidor.

Dr. Felix Zyngier ressalta a importância de ações como a Doce Veneno, e as enxerga como uma possibilidade de obtermos melhora nos produtos oferecidos pelas indústrias. “As ações afirmativas são muito importantes, pois elas esclarecem a população quanto ao efeito nocivo do consumo de bebidas industrializas e, contribuem para que os fabricantes produzam bebidas com menores teores de açúcar, sal e gordura, que são os principais agentes nocivos dos alimentos industrializados. Consequentemente, esta pode ser uma forma de reforçar a melhora nos produtos que a indústria oferece ao público consumidor, finaliza o médico.

Saiba mais em:

www.doceveneno.org.br

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